O ano de 2016 mostrou que a floresta, em pé, é uma ameaça aos interesses da política desenvolvimentista do atual governo, que deseja flexibilizar o licenciamento ambiental, alterar a demarcação de terras indígenas e aprovar medidas que possam reduzir os limites de reservas de unidades de conservação ambiental.
A Amazônia é considerada a última fronteira agrícola e por isso, é ambicionada pelo setor do agronegócio e empresas mineradoras. A região integra o chamado Arco Norte, rota que receberá recursos massivos para estruturar a logística do escoamento de grãos e minérios. Atualmente, tramitam no Congresso diversos projetos de construção de hidrovias, ferrovias, portos e hidrelétricas, sem nenhum debate com a sociedade civil.
Esses projetos, ao longos dos anos, ameaçam o modo de vida, a cultura, a identidade e a sobrevivência dos povos da floresta: indígenas, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas, agricultores familiares e pescadores. A cidade de Altamira e as obras de Belo Monte, resumem a maneira como as violações de direitos humanos afetam moradores e populações tradicionais.
Uma região ainda desconhecida para o resto do Brasil, mas que não deixa de ser manchete nos principais jornais quando anunciado os índices de mortes e conflitos no campo. O acampamento Hugo Chaves em Marabá ainda sofre com ataques de pistoleiros e cerca de 300 famílias provavelmente passarão o final do ano sob ameaças. A questão fundiária não integra a política de desenvolvimento do atual governo.
No embate pela garantia de direitos, lideranças de movimentos sociais ainda são criminalizadas, uma estratégia para intimidar e enfraquecer as mobilizações de um ano marcado por duros golpes à democracia.
Em contrapartida, 2016 foi um ano de muitos atos de resistência. As ocupações das escolas secundaristas, institutos e universidades federais declararam adesão à luta contra a PEC 55, a juventude rural e urbana amazônica se mobilizou e recebeu o apoio de movimentos populares, sindicatos e professores. A arte também se fez presente na luta e ganhou forma através da exposição das "Arpilleras Amazônicas: Costurando a Luta por Direitos".
Passados cinco anos a justiça condenou José Rodrigues Moreira a 60 anos de prisão por ser o mandante no assassinato do casal extrativista José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo, uma vitória que o Brasil de Fato acompanhou. Confira
Edição: José Eduardo Bernardes