Divisão política se tornou divisão social, diz pesquisador: “Eleições estão opondo dois Brasis”

Divisão política se tornou divisão social, diz pesquisador: “Eleições estão opondo dois Brasis”

Comparação por região, raça, sexo, renda e religião em pesquisa Quaest/Genial revela separação social nítida

Redação Rede Brasil Atual

Mais do que uma mera divisão política, a eleição presidencial, marcada para outubro, atesta que há uma divisão social no Brasil. Em que a disputa entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) não é mais sobre partidos, mas entre grupos sociais que lutam por direitos e reconhecimentos. É o que observa o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), especialista em pesquisa de opinião e redes sociais, Felipe Nunes, diretor da Quaest Pesquisa e Consultoria. 

Nesta sexta-feira (3), o cientista político divulgou, em sua conta no Twitterdados parciais da 11ª rodada da pesquisa eleitoral Genial/Quaest, registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número BR-01603/2022, que será publicada na próxima quarta (8). De acordo com Nunes, o novo estudo mostra o que se convencionou chamar de “polarização” na disputa entre os dois principais candidatos à Presidência da República – Lula e Bolsonaro – e ganha outra dimensão quando se compara os eleitores do ex-presidente e do atual por região, raça, sexo, renda e religião.

Na pesquisa da consultoria em maio, Lula liderava a disputa com 46% das intenções de voto, seguido por Bolsonaro com 29%. Juntos, os dois somam 75% dos votos, o que vem garantindo que a corrida pelo Palácio do Planalto deve ficar entre esses dois candidatos. E o eleitorado de cada um pertence a grupos sociais opostos. A 11ª rodada da pesquisa indica que enquanto os homens se dividem entre Lula (39%) e Bolsonaro (42%), as mulheres, em sua maioria, votam em no petista – 50%, ante 24% no ex-capitão.

Grupos e pensamentos opostos

O mesmo ocorre quando as intenções de voto levam em conta a variável da renda. Os ricos se dividem entre o ex-presidente (36%) e o atual (43%). Mas os pobres (até dois salários mínimos) têm maior preferência por Lula (56%) do que por Bolsonaro (22%). No quesito raça, os brancos se dividem entre o petista (39%) e o candidato do PL (37%). Mas os negros votam mais em Lula (59%) que em Bolsonaro (23%).

De acordo com o pesquisador, a divisão social fica mais evidente na oposição entre o eleitorado católico e evangélico. Nesse caso, enquanto Lula registra a maior taxa de intenção de votos entre os católicos (53%) e Bolsonaro a menor (27%), o ex-presidente tem 30% da preferência dos evangélicos, enquanto o atual tem 47%.

Já por região, o Nordeste vota em Lula: 61%, contra 22% de Bolsonaro. Mas o Sul se divide entre 39% para o pré-candidato do PT e 41% para o do PL. “Percebemos que as eleições deste ano estão opondo dois Brasis”, destaca Nunes.

A pesquisa também aponta que além de pertencerem a grupos sociais diferentes, os brasileiros que votam em Lula e em Bolsonaro também pensam de formas opostas, principalmente sobre as mortes da pandemia de covid-19 e as questões econômicas ligadas à inflação e ao desemprego. Parte dos dados, antecipados pela colunista Thais Oyama, do portal UOL, mostra que 85% dos eleitores de Lula acham que as decisões tomadas por Bolsonaro foram equivocadas. Mas apenas 16% dos eleitores do atual presidente concordam com essa afirmação.

“Dois Brasis”

A discordância também é alta sobre a avaliação da situação econômica do país. Ao menos 80% dos eleitores de Lula acham que ela piorou. Enquanto apenas 28% dos eleitores de Bolsonaro dizem o mesmo. Eles justificam, em sua maioria, que o cenário deve melhorar. E que a inflação “é um problema que ocorre em todo mundo” para “absolver” o presidente de sua responsabilidade, diz a coluna.

“Se alguém tinha dúvida, esses dados mostram que a polarização política se transformou em polarização social. A disputa não é mais entre partidos, mas entre grupos sociais que lutam por direitos, privilégios, garantias e recursos limitados. Ninguém vai querer perder…”, comenta o diretor da Quaest.

Apesar de mais evidente no pleito deste ano, o mestre em Economia e doutor em Direito Bruno Carazza escreveu, em coluna para o jornal Valor Econômico, no final de maio, que desde 2006 há uma “nítida clivagem social nas preferências eleitorais”. Segundo Carazza, entre 1994 e 2002 os presidentes eleitos (Fernando Henrique Cardoso e Lula) eram apontados nas pesquisas com ampla margem de intenções de voto em todos os segmentos de todos os recortes mais utilizados, como gênero, idade, escolaridade, renda e região.

O que se subverteu a partir da reeleição do petista, quando no segundo turno Geraldo Alckmin (então no PSDB), que havia perdido a disputa com 39,17% contra 60,83% de Lula, mostrou vantagem entre eleitores de nível superior (53% a 47%), de rendimentos mensais superiores a 10 salários mínimos (56% a 44%) e moradores da região Sul (52% a 48%). Desde então, de acordo com o colunista, esse padrão só se intensifica. E, no caso, do PT, o eleitorado de mulheres, jovens, baixa renda e ensino fundamental e de moradores do Nordeste se consolidou.

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