Nascido na Bahia, de pai operário italiano, mãe negra da etnia dos Haussás e origem humilde. Militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e um dos líderes da Ação Nacional Libertadora (ALN). Preso em duas ditaduras, torturado, guerrilheiro e poeta. Para a grande mídia e os que escrevem a História: terrorista.
“1964 — Com o golpe de abril, instaura-se a ditadura militar. Perseguido pela polícia, Marighella entra num cinema do bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, e lá resiste aos policiais até ser diversas vezes baleado, espancado e finalmente preso. Sua resistência transformou sua prisão em um ato político que teve repercussão nacional. É solto depois de 80 dias, depois de um habeas corpus pedido pelo advogado Sobral Pinto”.
Esse trecho foi retirado de uma biografia resumida no site do PCB e possivelmente é como a maioria das pessoas — dentre as poucas que conhecem o episódio — devem se referir a ele. Uma anedota da história.
O que eu sei sobre o fato: em 9 de maio de 1964, Carlos Marighella e Clara Charf estavam em um aparelho — nome dado as casas usadas de esconderijo na ditadura — vivendo de forma ilegal e escondendo quaisquer rastros de existência. Marighella tinha marcado um encontro com uma amiga em frente a um cinema na Tijuca para reaver algumas roupas que haviam ficado para trás na última fuga.
Clara diz, no documentário, que o companheiro teve um pressentimento e começou a recolher todos seus pertences do apartamento, pedindo para ela fazer o mesmo. Quando saiu do apartamento, de frente para o elevador, Marighella optou pela escada. A polícia, pelo elevador. Oxóssi protege seus filhos.
Próximo ao cinema, agora sozinho, Marighella percebeu a polícia de tocaia, vigiando. Fez sinal para a amiga entrar e seguiu atrás. Pegou o pacote, se despediu rapidamente e sentou-se em meio a sessão da tarde, lotada de crianças e famílias. Pouco tempo depois, as luzes do cinema foram acesas e ele foi cercado pelos policiais instaurando o caos no local. Lutou o quanto pôde com socos e gritos de “Abaixo a ditadura militar fascista” e “Viva a democracia”, mesmo baleado covardemente a queima roupa.
A bala fez quatro furos, entrando pelo lado esquerdo do tórax, saindo pelo direito e atravessando o braço de Marighella. Ainda assim, relatos dizem que quase uma dezena de policiais foram necessários para colocá-lo dentro da viatura. Desse episódio, surgiu o relato de próprio punho que deu origem ao livro “Porque resisti a prisão”.
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