Do Jornal de Braília
Jornal de Brasília pede desculpas ao público feminino
Nota da coluna Gilberto Amaral é criticada pelas jornalistas da casa. Publicação da coluna é suspensa por sete dias.
A publicação de uma nota na coluna Gilberto Amaral, na edição impressa de segunda-feira, causou revolta em internautas e leitores. O motivo foi o tom da publicação.
O Jornal, em primeiro lugar, se retrata com seu público, especialmente com as leitoras, pelo tom empregado na nota. Também se retrata diante dos grupos feministas, igualmente ofendidos, reconhecendo que sua luta pela igualdade é justa e oportuna, e vem trazendo inegáveis progressos para a nossa sociedade.
O Jornal também pediu às mulheres da redação para que elaborassem um texto a respeito do que foi publicado e de como foi o seu dia de trabalho diante disso. Elaborado pela repórter Jessica Antunes, ele foi chancelado por todas as jornalistas, sem nenhum comentário, veto ou restrição dos jornalistas do sexo masculino.
Por fim, o Jornal de Brasília acredita em uma sociedade progressista e igual. Por conta disso, estamos suspendendo a publicação da coluna Gilberto Amaral por um período de sete dias, a partir desta edição.
A nota das jornalistas do Jornal de Brasília
Foi uma vergonha. Nenhuma palavra de desculpa pode minimizar a intensidade com que uma nota publicada hoje pelo Jornal de Brasília afetou cada uma das mulheres do nosso Brasil. Aqui lidamos com palavras que podem ter a mesma força que uma imagem exibida na televisão. Nós vimos isso. Sentimos isso.
Eu sei disso. Vivo isso. Ninguém liga se o trabalho é feito sem maquiagem, com o cabelo bagunçado ou de tênis. Ou não deveriam ligar. O que deve importar é o trabalho, a competência, o que é publicado diariamente nas linhas do impresso que persiste, apesar dos golpes das diversas crises. E o que foi publicado me envergonhou como mulher, como profissional, como brasileira.
Escrevo aqui em primeira pessoa para demonstrar, em nome das mulheres da redação, a indignação, a revolta e a tristeza com um pensamento misógino que saiu no próprio veículo em que trabalho e que escancarou falhas. Falhas de conceituação, de responsabilidade e de empatia. Jamais deveria ter sido publicado.
A vergonha foi tanta que, por momentos, ficamos sem reação. O erro estava claro e estampado na página 14 da edição impressa desta segunda-feira, 16 de maio, que logo espalhou indignação pelas redes sociais – local mais que apropriado e democrático para confirmar o pecado. Fomos bombardeados e concordamos com quase todos os questionamentos. Acho que, ao fim do dia, teremos várias lições.
Como jornalistas, compreendemos que erros devem ser admitidos. Como mulheres, que temos força para questionar retrocessos e para lutar por espaço e direitos. Como cidadãos, que a democracia só existirá por completo quando houver representação feminina em todos os âmbitos da sociedade. Ainda não passamos da ponta do iceberg do problema.
Marcela Temer é linda, sim. Mas, sozinha, não representa a mulher brasileira. A mulher brasileira não tem um perfil. Tem vários. São várias. Somos várias. Por muito tempo, nós ficamos presas a exatamente esse mesmo tipo de visão exposta de forma vergonhosa hoje. Mas lutamos todos os dias contra essa maré. Conquistamos, mais do que tudo, poder de escolha. E escolhemos não nos submeter a um pensamento retrógrado que reduz a feminilidade apenas ao conceito de beleza. Somos mais do que isso.
Jéssica Antunes, em nome de todas as mulheres do Jornal de Brasília