O ilegítimo continua a desfiar seu rosário de maldades!
Acordou pampeiro. Todo prosa. Há uma semana comemorava. Havia derrubado o governo da anta e tirado do poder os petralhas. A vida era quase um gozo.
No café da manhã, percebeu o filho chateado, triste (esse choque de geração, o menino tinha ido contra toda a família, defendia a anta, onde já se viu?).
Era hora da pacificação, afinal o filho era o orgulho da família, pequeno-burguesa: fazia medicina (um doutor em casa, ria só de olhar a cara dos vizinhos, invejosos…). Quis saber o que o filho tinha. ´´ É minha bolsa permanência, pai. Cortaram“.
Foi um choque. As despesas iriam aumentar e, logo agora que pensava em aposentadoria. Teria que arrumar outro trampo, um bico.
Resolveu tirar aquilo a limpo, se informar.
Saiu no corredor do prédio e roubou o jornal do vizinho. Retornou ao apartamento com um aperto no peito. As manchetes e chamadas assustavam: iriam privatizar sua empresa (adeus aposentadoria integral).
Noutra chamada a notícia ainda mais estarrecedora: aposentadoria aos 75 anos. Derrubou a xícara sobre a mesa. Enquanto, solícita, limpava a sujeira do café sobre a toalha, a mulher anunciou: ´´vão cortar verbas do SUS, aquela cirurgia das varizes vai ter que ser pelo plano de saúde. E ele só cobre o custos do hospital“.
Irado, levantou-se de chofre, pegou a camisa verde-amarela, a corneta vuvuzela (herança da Copa na África do Sul, a última viagem internacional), a velha panela inox (presente de casamento) e não teve dúvidas: jogou tudo no lixo.