Wobulenzi, Uganda – Aahamadah Ntale, com perspicácia, encontrou em Uganda um jeito novo de homens e mulheres iniciarem um relacionamento – começando por ele mesmo.
Por Ian Fisher, em 2007
Algumas semanas atrás ele foi até o escritório local de um dos jornais nacionais de Uganda e, quando saiu, o repórter tinha uma história que foi publicada com a manchete: “Homem procura mulher velha para casamento”.
Ele tem 25 anos de idade, é mototaxista. Disse que queria uma mulher entre 35 e 45 anos, carinhosa e que não seja portadora de Aids. O mais importante: ela teria de reverter a antiga tradição ugandense pela qual o homem paga um dote à família da mulher para ter o direito de se casar com ela. Em vez disso, dizia o artigo, a pretendente deveria pagar os pais dele.
No dia em que o artigo foi publicado, o primeiro telefonema foi às 7 da manhã, de uma mulher de negócios da capital, Kampala, 38 anos. Quando anoiteceu, já eram 193 telefonemas, disse ele, e em uma semana, mais de 400. Uma mulher prometeu 10 vacas para ser a escolhida e fazê-lo desistir da procura.
A pergunta é: por que as mulheres estão tão interessadas nesse obscuro taxista de uma pequena cidade? A resposta é: porque elas podem.
Na última década, as mulheres de Uganda fizeram importantes progressos em direção à igualdade – muito mais do que em outras nações africanas. Agora, as mulheres sabem ler e, a capital Kampala, está repleta de mulheres trabalhando, conversando no celular e ganhando dinheiro. A vice-presidente de Uganda é uma mulher, assim como há várias outras líderes políticas.
Agora o Sr. Ntale gostaria de proporcionar às mulheres outro direito que tradicionalmente só os homens possuem – o direito de pagar a alguém pra casar. “Eu quero ver se as mulheres podem me sustentar, assim como os homens sempre sustentaram as mulheres depois do casamento”, adicionou ele. “Eu quero saber como nos tratam depois que se casam.”
O Sr. Ntale é o segundo filho da terceira mulher de seu pai. Seu pai é muçulmano, tem 5 mulheres e 23 filhos. De tempos em tempos, enquanto o Sr. Ntale crescia, uma de suas irmãs desaparecia com um homem estranho.
“Então, uma vez eu perguntei pra minha mãe: “Por que eles levam minhas irmãs?” Ela respondeu pra mim: “Eles levam elas pra se casar. E quando se casam, os homens têm que pagar.”
“Uma vez perguntei: ‘Por que elas não nos levam, os homens?’
Ela me respondeu: “Os homens pagam pelas mulheres, não as mulheres pelos homens”.
Aquilo não fazia sentido pra ele quando era uma criança e continua sem sentido até hoje, ele diz. Então, quando decidiu que já era hora de se casar, procurou um repórter do jornal na tentativa de encontrar para ele mesmo uma noiva disposta a reverter a tradição.
“No início, eu achei que ele estivesse brincando. Mas, conversamos por mais de duas horas e ele me provou que estava falando sério”, disse o repórter, que logo reconheceu que aquela seria uma boa matéria.
A história foi publicada oito dias depois, com o número do telefone celular de um dos vizinhos do Sr. Ntale. Quando o primeiro telefonema foi feito, o Sr. Ntale estava dormindo, e as chamadas seguintes, todas registradas pelo nome em uma agenda, não pararam mais.
A pretendente mais jovem tem 27 anos de idade; a mais velha, 60. (Eles até já almoçaram juntos, mas ela foi desclassificada porque existe a possibilidade de que sejam parentes). Várias mulheres vieram até aqui, 48 quilômetros a norte de Kampala. Uma veio dirigindo um Land Rover e outra um bonito Toyota.
Deixando de lado as vacas, ele não quer discutir sobre o que já foi oferecido pelas mulheres que querem se casar com ele. Ele diz que deseja uma noiva com dinheiro, mas não necessariamente vai escolher a que tiver mais.
“Eu não estou procurando por uma mulher rica. Eu conheci muitas mulheres ricas, mas não as escolhi. Ela precisa me amar muito”, disse ele.
Na sua pequena cidade, já foi parabenizado por homens e também por mulheres. Dezenas de homens já imploraram para que ele os mande as mulheres dispostas a pagar o dote que não forem escolhidas.