Do Diário de Pernambuco
Alceu Valença já estava na sexta música do show quando disse que havia sido possuído por uma entidade, chamada “Pastor Vavá”, no meio do show no Festival de Inverno de Garanhuns, na noite de quarta-feira.
“Meus irmãos, eu vou fundar uma igreja, a congregação musical”, disse o artista ao microfone diante da plateia que lotava a Praça Dominguinhos, onde fica o principal palco do evento. “Precisamos nos livrar da música chula”, afirmou. Em seguida, exemplificou: “a muriçoca pica, pica. A muriçoca soca, soca”.
Algumas horas antes, no início da noite, ele foi ao Cinema Eldorado, onde conversou com a plateia sobre o filme A luneta do tempo, que dirigiu. Ao falar sobre as dificuldades que encontrou para lançar o longa-metragem nos cinemas, ele revelou que foi prejudicado porque precisou enfrentar a concorrência com Batman versus Superman, que ele considera “uma merda”.
“No Rio de Janeiro, A luneta do tempo entrou em quatro salas. Batman versus Superman, que é uma merda de um filme, passou em 80 cinemas. Então como é que você pode levantar o cinema brasileiro se tá tudo dominado?”, questionou.
Ao criticar a muriçoca e os super-heróis, Alceu quis explicar ao público que os bons filmes e a boa música não chegam à população por causa de um mercado de entretenimento contaminado por lógicas comerciais predatórias e por práticas corruptas, como o jabá. Ele lembrou que os meios de comunicação funcionam a partir de concessões públicas, mas são administrados por interesses privados. No show, ele ainda elogiou a curadoria artística do Festival de Inverno de Garanhuns.
Cantar em Garanhuns foi um experiência especial para Alceu, que chegou a morar durante três anos na cidade quando era criança. Ele nasceu em São Bento do Una, localizada nos arredores, e demonstrou ter um bom conhecimento sobre a região, que, segundo ele, o forneceu toda a cultura na qual sua obra é baseada. Em determinado momento, o cantor improvisou rimas com os nomes das cidades da região: Garanhuns, São Bento, Pesqueira, Belo Jardim, Lajedo, Cachoeirinha e Jupi.
O repertório do show foi todo formado por sucessos infalíveis, que deixaram a plateia dominada pelo poder da boa música: Agalopado, Coração bobo, Pelas ruas que andei, Na melodia de Pisa na fulô, Girassol, Como dois animais, Solidão, Táxi lunar, Anunciação, La belle de jour, Morena tropicana, Bicho maluco beleza, Diabo louro, Me segura que se não eu caio e Voltei, Recife. Na maior parte do tempo, os arranjos eram formados apenas por baixo, guitarra, bateria e teclados, com participações pontuais de um sanfoneiro e de um quarteto de metais (nos frevos).