Nada redimirá Eduardo Cunha no traçado histórico por sua participação em esquemas de corrupção e menos ainda por patrocinar um golpe parlamentar por meio de um impeachment sem crime. Cunha tem muito hoje para o amanhã e no que depender de seus algozes sua imagem será utilizada pra insinuar que a depravação na política foi minimizada.
No Congresso Nacional há centenas de tipos como Cunha, sujos ou mal lavados, que se ajoelharam às suas arbitrariedades por interesses em comum. O acordão para defenestrar o deputado tem caráter eleitoreiro, mas muita gente se rende a ilusão de que pode ser o sinal de um processo de assepsia na política.
Tudo o que a sociedade brasileira não precisa neste momento é de um efeito placebo no combate à corrupção. Por esse ângulo, apesar de Cunha não mudar sua história, pode influenciar positivamente e muito, nos próximos capítulos da história da política brasileira. O personagem tido por muitos como ‘bandido útil’ por tirar o Partido dos Trabalhadores do poder, bem que pode ser útil ao restabelecimento da democracia, à campanha por Diretas Já.
Ao deixar o poder com o rabo entre as pernas, escorraçado com vaias, reclamou ingratidão e ameaçou contar em detalhes o que combinaram no breu das tocas para levar adiante o impeachment de Dilma Rousseff.
Sem floreios, insinuou vingança a Michel Temer, que teria feito com o deputado o que fez com Dilma, o abandonou e conspirou para que o desfecho fosse a perda do mandato.
Resta saber se Eduardo Cunha só está magoado por Temer não ter sido honesto ou se não pode voltar a acreditar nele, como provoca à reflexão a máxima nietzschiana.
Os deputados e senadores que se aliaram ao golpe, responsáveis pela sabotagem às ações do governo Dilma e que agora deram a Cunha uma colherada do próprio veneno, não terão sono tranquilo daqui pra frente.
“Vou contar tudo que aconteceu, diálogo com todos os personagens que participaram de diálogos comigo. Eles serão tornados públicos, na sua integralidade. Todo mundo que conversou comigo, todos, todos”, disse.
Que Cunha deixe de lado a alegada orientação bíblica e leia o capítulo 7 de “O Príncipe”, de Maquiavel, que ensina como um governante deve se livrar do auxiliar que fez um trabalho sujo.
“E, porque esta parte é digna de ser conhecida e imitada pelos outros, não desejo omiti-la.”