Sumiço de peça histórica causa embate entre candidatos em Curitiba
Desaparecimento de peças da Fundação Cultural de Curitiba
CATIA SEABRA
DE SÃO PAULO
A Fundação Cultural de Curitiba —subordinada à prefeitura da cidade— apura o desaparecimento de 12 obras de arte originalmente pertencentes a um museu municipal, a Casa Klemtz.
Uma das suspeitas da instituição é que parte desse acervo esteja numa chácara do ex-prefeito Rafael Greca (PMN), que lidera a disputa pela prefeitura contra o prefeito Gustavo Fruet (PDT), que tenta a reeleição.
Essa suspeita nasceu da comparação dos itens desaparecidos com fotos publicadas pelo próprio Greca nas redes sociais. Oito anos após o desaparecimento das peças, que ocorreu quando Greca era prefeito, ele exibiu em sua página em rede social imagens externas e internas da chácara São Rafael, propriedade de sua família.
Três móveis expostos na rede social coincidem, em descrição e imagens, com os objetos desaparecidos em 1995: uma cristaleira (“étagère”) e dois lavatórios, sendo um deles do século 19.
Consultada pela Folha sobre a semelhança das obras e após a confrontação de fotos de arquivos com postagens de Greca na rede social, a fundação afirmou que “há indícios fortíssimos” de que sejam as mesmas peças.
Nesta quarta-feira (21), a Prefeitura de Curitiba entrará com uma ação judicial para recuperação desses bens.
Greca era prefeito em 1995 quando a fundação do município comprou a Casa da Família Klemtz na cidade.
Dias depois, uma restauradora informou à fundação cultural o desaparecimento das peças, entre eles um lavatório do século 19. A fundação foi informada, então, que a peça fora retirada para tratamento de conservação.
Em 1998, após sair da prefeitura, Greca e sua mulher posaram para uma revista diante da chácara. Atrás do casal, estava um lavatório.
Em 2001, a fundação cultural fez um relatório registrando o desaparecimento das peças. Em 2013, um relatório da Diretoria de Patrimônio Cultural e Artístico da Fundação Cultural afirma que “dos 29 itens do acervo, doze estão desaparecidos”.
“Existe o registro, com fotos e descrição, dos itens desaparecidos do acervo. Ressaltamos que outros documentos, do ano de 1995, constantes no relatório, já mostravam preocupação com o sumiço de móveis do acervo público da Casa Klemtz”, diz a fundação, segundo a qual os objetos são “artísticos-históricos de valor inestimável”.
Procurado, Greca afirmou, por intermédio de sua assessoria, que desconhece o desaparecimento de acervo em sua gestão. Ele disse estranhar que o caso venha à tona a dez dias das eleições.
Greca disse ainda que o mobiliário de sua casa são objetos de herança, sendo os mais expressivos declarados à Receita. Sobre as peças, Greca diz que “se há semelhança é de estilo do mobiliário da época, comum nas residências tradicionais de Curitiba, grande centro de produção moveleira”.
“Os móveis de madeira de estilo eclético eram copiados diferentes vezes por um mesmo artesão. Os de ferro eram reproduzidos pela fundição Mueller”, diz a nota.