Pobre que vota em rico precisa ser tratado como adulto

Pobre que vota em rico precisa ser tratado como adulto

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Na foto o bairro de Jaraguá, São Paulo: 46,73% votaram em Doria e 15,08% em Haddad

por Renato Janine Ribeiro, no Facebook

Bem, vai lá uma pergunta bem difícil.

Durante doze anos, os dois mandatos de Lula e Dilma 1, o PT fez uma série de políticas que beneficiaram — muito — os mais pobres.

Mas bastou a grana faltar e os mais pobres se mandaram.

Votaram em massa no Doria.

Claro que podemos dizer que a mídia perversa, o preconceito etc, etc.

O problema de dizer isso é que é muito condescendente, quase paternalismo: é dizer que os pobres são manipulados fácil fácil, que precisam ser orientados.

(Tipo o Lula subir num caminhão e dar a volta na periferia avisando que Marta saiu do PT. Ora, os pobres não sabem disso? Precisa alguém dizer para eles?)

A outra interpretação é: eles realmente não estão ligando.

Parou a grana, eles mudaram de lado.

Esta interpretação tem uma vantagem: trata-os como adultos.

Respeita o voto deles como uma decisão consciente.

E pára de ter pena deles.

Para mim, é difícil escolher uma destas interpretações.

Sei das deficiências enormes de formação — e educação — inclusive cultura política — de nosso povo.

Mas não gosto de ter pena de gente maior, vacinada etc. Penso que têm que ter responsabilidade por suas escolhas.

Uma lembrança de meu pai. Em 1985 os funcionários mais pobres da firma em que ele era funcionário graduado o zoaram:

— Nós elegemos o Jânio, que era o candidato dos pobres, em vez dos candidatos dos ricos!

Meu pai não gostou, não respondeu. Nem fez nada contra eles, ele jamais faria isso.

Dois meses depois, Jânio começou o pacote de maldades contra os pobres.

Um deles veio ver meu pai, pedir que escrevesse uma carta aos jornais protestando contra uma medida de Jânio.

(Naquela época, carta a jornais significava alguma coisa).

Meu pai devolveu:

– Vocês não votaram nele? Não disseram que era o candidato dos pobres?

(E o curioso é que em 1989 rolou, de novo, essa de candidato dos pobres, que no caso seria Collor…)

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