TIJOLAÇO: O “SÃO TODOS LADRÕES” AFASTOU OS POBRES DA POLÍTICA

TIJOLAÇO: O “SÃO TODOS LADRÕES” AFASTOU OS POBRES DA POLÍTICA

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Por Fernando Brito, do Tijolaço

Escrevi aqui sobre o que, na minha opinião, é a tolice de acharem que as abstenções “explodiram” nesta eleição de forma generalizada, como recusa da população à política.

Finalmente, leio uma análise lúcida sobre isso, muito menos calcada nos números de abstenção e apoiada, como deve ser, nas mudanças que a criminalização da política trouxe na relação de engajamento eleitoral dos pobres e dos ricos – ou dos que acham que são, na votação em branco ou nula.

José Roberto de Toledo, no Estadão, analisa a importância que os paulistanos, por região, deram à disputa municipal.

E, como mencionei ontem, é o estudo da distribuição dos votos brancos e nulos, o que é sinal dos efeitos da transformação da política em antro de criminosos, o que nunca foi um problema para os conservadores, mas um pretexto quando a corrupção em um governo de esquerda foi transformada em “primeira e única” da história brasileira.

Toledo escreveu:

O maior desinteressado pela eleição municipal foi o eleitor pobre. Pesquisas Ibope feitas nas vésperas do pleito nas principais capitais brasileiras revelam que eleitores da base da pirâmide de renda declararam pouco ou nenhum interesse pela eleição em taxas de 14 a 27 pontos maiores do que os mais ricos.

A maior diferença aconteceu no Rio de Janeiro: 61% dos cariocas com renda até um salário mínimo se disseram desinteressados pelo pleito, contra apenas 34% dos que têm renda acima de 5 salários. Em São Paulo, o desinteresse atingiu 55% e 39%, respectivamente. Mais do que uma curiosidade, foi crucial para o resultado.

Entre os paulistanos, o desinteresse se traduziu em uma maior taxa de votos brancos e nulos na periferia pobre da cidade do que nos bairros mais ricos do centro expandido. Na fronteiriça Guaianazes, no extremo da zona leste, 21,4% dos eleitores anularam ou votaram em branco. Nos Jardins, só 6,9%. Isso teve um impacto determinante no resultado da eleição.

Este quadro, sim, é generalizável nas grandes capitais. Procurem os votos “na esquerda” nas zonas mais populares do Rio e verão que o processo foi semelhante.

Isso tornou o peso relativo das regiões mais ricas do que deveria ser e, muito mais que a abstenção, explica a inesperada vitória de João Dória no primeiro turno.

No Rio, deve servir para que Marcelo Freixo repense as prioridades no seu segundo turno, no qual, finalmente, terá acesso significativo aos meios de comunicação.

O discurso da “modernidade”, embora correto, tem limites muito estreitos na hora do voto.

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