Da BBC Brasil em São Paulo
“Sobrevoei o litoral sul e a sensação de tristeza foi a mesma que tive após o terremoto, em relação ao desespero da população”, afirmou o general Ajax Porto Pinheiro.
Foi ele quem comandou tropas brasileiras no Haiti depois do terremoto de 2010 e hoje coordena todo o efetivo militar da ONU no socorro após a passagem do furacão Matthew.
O número de mortos já passa de 800. A ONU e autoridades locais estimam que 350 mil pessoas necessitam de assistência devido à passagem do furacão.
Pinheiro disse à BBC Brasil que a região mais afetada foi o sul do país caribenho – especitalmente as cidades de Jeremie, Port Salut, Roche-a-Bateu, Coteaux, Port-a-Piment, Chardonieres e Les Anglais.
“O cenário dessas cidades é de bombardeio”, disse o general. “As pessoas veem o helicóptero e ficam acenando e pedindo socorro.”
A maioria das áreas que ele sobrevoou ainda não foram alcançadas por tropas terrestres e equipes de ajuda humanitária devido a bloqueios nas estradas.
“Árvores foram arrancadas do solo junto com a raiz, florestas inteiras… Os coqueiros parecem mato tirado da terra com a mão. Foi um desastre ambiental também”.
“O furacão destruiu todas as plantações de banana e acabou com criações de frangos, porcos e gado. Ou seja, toda a agricultura de subsistência foi arrasada e essas pessoas precisam de alimentos”, afirmou o general.
Os ventos chegaram a 230 km/h durante a passagem do furacão. Em cidades como Jeremie, 80% das construções foram arrasadas.
Segundo o general, muitas das mortes aconteceram porque as pessoas foram atingidas por destroços, ou se afogaram. A maré subiu durante a passagem do furacão e as vilas costeiras foram invadidas por ondas.
Pinheiro comparou o cenário atual à situação do país após o terremoto de janeiro de 2010. Segundo ele, na tragédia anterior houve um número muito maior de vítimas fatais – estima-se que mais de 200 mil – porque a área mais atingida foi a capital, Porto Príncipe, onde há uma grande densidade populacional.
A área atingida pelo furacão Matthew é menos povoada, mas suas construções eram frágeis e não resistiram à força do vento.
“Na capital, as casas têm lajes pesadas, preparadas para resistir a furacões. No terremoto de 2010 foi isso que matou muitas pessoas. No sul, as casas têm teto de zinco, não aconteceria nada no caso de terremoto, mas elas não resistiram ao furacão”, disse Pinheiro.
“A população quer uma resposta rápida, mas ainda estamos tentando chegar aos locais mais distantes”, disse.