É preciso amor pra poder plantar

É preciso amor pra poder plantar

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“Quem ama o feio, belo parece.”

Meu pai Antônio Cândido da Silva é autor da bandeira e brasão do município de Porto Velho, poeta, escritor focado na história regional. Só não nasceu aqui, mas resumiu o convívio desde criança no seguinte verso:

“Eu amo realmente esta cidade
como quem ama uma mulher bonita
com a forte paixão de mocidade
que pela vida no meu ser palpita.
Hei de cantá-la para a eternidade.
Ser seu amante é como lei escrita
que no meu peito em doce suavidade
meu coração agradecido agita.”

Com poesia ele ampliou meus sentidos, me fez ter amor à esta terra e às pessoas que constroem mais que negócios, tradições, modos de viver e criar que formam a identidade da cidade.

Ao ouvir o candidato tucano, Hildon Chaves, declarar num encontro com empresários que “Ninguém vem pra Porto Velho mesmo com a passagem barata, só vem quem tem parentes em Porto Velho, naturalmente”, reafirmei meu compromisso de não eleger ninguém que não tenha o mínimo de amor pela cidade, sequer gratidão pela acolhida e sucesso profissional ou empresarial.

Como o candidato, muitos vieram sim, mas tão somente pensando em oportunidade de estabilidade profissional ou implantação de negócios que em outras capitais impõem concorrência acirrada.

A fala que desqualifica sua pretensão de comandar a prefeitura, foi em resposta à perspectiva de fomento ao turismo caso seja eleito, que resumiu “em pesca e turismo de eventos, principalmente focado na questão de desenvolvimento do estado”.

Temos muito potencial turístico sim, mas nunca explorado adequadamente por termos tido na política pessoas que não conhecem e, naturalmente, demonstram pouco caso com o patrimônio histórico, a cultura e as belezas naturais do município.

São pouquíssimos os políticos que frequentam as coisas boas e muitos os que não movem esforços pra preserva-las.
Basta dizer que a Assembleia Legislativa não só fechou os olhos para a exploração ilegal do garimpo no rio Madeira, como persegue sua autorização. Um perigo que ameaça o patrimônio histórico, a vida ribeirinha, a saúde pública de um modo geral e até as mansões de abastados que se instalaram em suas margens.

O que falta não é potencial turístico, mas esforço político para proteger o patrimônio histórico e fomentar as diversas manifestações culturais que sobrevivem graças a quem ama esta cidade. Temos um calendário anual de eventos sim, volta e meia alterado por perseguição de órgãos que impõe burocracia ao invés de apoio, um dever do município, estado e união.

O que o eleitor quer ouvir como proposta de candidato a prefeito para o turismo é justamente o contrário do que disse Hildon. Quer alguém que se comprometa em não mais desprezar o potencial natural inexplorado e sobretudo, o que é estimulado por amor em festejos folclóricos, no carnaval que nasceu junto com a cidade, nos eventos das comunidades ribeirinhas que associam tradição religiosa à cultura popular.

Não foi só uma fala infeliz do candidato, que mantém no Rio de Janeiro, num dos metros quadrados mais caros do país, dois apartamentos onde certamente veraneia. Foi uma fala de político que não conhece a cidade, que não sabe do seu potencial turístico, que só trabalha aqui.

Disse e repito, sem amor ou ao menos gratidão, nada se constrói.

Posso até me frustrar com quem convive com as pessoas e lugares belos de Porto Velho e venha a demonstrar pouco caso também, mas é dever não permitir que se eleja quem vê na cidade só o potencial econômico.
O turismo não pode ser descartado de nenhum projeto de desenvolvimento, pelo potencial econômico e por todos os valores que agrega.

E pra encerrar, busco em outro verso do meu pai, o exemplo de quem por amar o feio, o belo enxerga:

“Nós éramos, então, duas crianças.
Eu trazia um punhado de esperanças
e tinhas um futuro promissor.
Ao me acolher a vida me sorriu
e desde então minha alma se sentiu
sob os encantos do primeiro amor…”

Sem amor, nada se constrói para as gerações futuras.

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