Parlamento alemão discute o impeachment no Brasil: 3 dos 4 partidos denunciam golpe

Parlamento alemão discute o impeachment no Brasil: 3 dos 4 partidos denunciam golpe

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(Foto: Barbara Heinzelmann / Jornalistas Livres. Ato contra o golpe na Alemanha, diante da Porta de Brandemburgo, Berlim, 16 de abril de 2016).

Arpeggio – Coluna política diária

Por Miguel do Rosário

Uma das coisas interessantes que nasceram das lutas contra o golpe foi a constituição de comunidades políticas de brasileiros no mundo todo.

Há um grupo bastante ativo na Alemanha, locomotiva econômica e principal potência política da Europa, que se manifestou em diversas cidades, e que vem acompanhando de perto a reação do parlamento alemão ao impeachment no Brasil. Alguns brasileiros, inclusive, tem sido convidados para dar depoimentos em reuniões dos partidos alemães, sobretudo os de esquerda, que são mais preocupados com questões de democracia, direitos humanos e direitos sociais.

Esta semana, duas brasileiras pertencentes a uma dessas comunidades acompanharam um debate de 30 minutos, realizado pelo parlamento alemão sobre o impeachment de Dilma Rousseff. O debate foi proposto pelo Die Link, um dos principais partidos de esquerda do país.

Uma das brasileiras ficou de nos enviar a íntegra dos discursos, mas adiantamos aqui o resumo já feito por elas.

“RESUMO DO DEBATE

Acabo de ouvir, inteiro (30 min), o debate no Parlamento alemão sobre a deposição da Dilma (também trataram, brevemente, a situação na Colombia, Cuba e na Venezuela). Reproduzo a partir de minhas anotações.

DOS 4 PARTIDOS QUE FALARAM 3 ESTÃO CONVENCIDOS DE QUE NÃO FOI UM PROCEDIMENTO REGULAR (o quarto, CDU/ CSU, o caracterizou como “discutível”, mas disse que não podem se meter no direito constitucional brasileiro).

Todos frisaram a importância do Brasil, tanto em relação com a Alemanha, como no mundo, e o trabalho positivo dos anos passados, incluídos os governos Lula e Dilma. Não decidiram nada, mas chamaram a atenção sobre vários pontos, o que nos dá esperanças.

DIE LINKE (esquerda, vinda da DDR): Falou Wolfgang Gehrcke, que foi quem propôs a discussão: disse que o procedimento não foi regular, que foi um “golpe” (PUTSCH), que o novo presidente é ILEGAL, e mencionou a PEC 241 e suas catastróficas consequências para o País. Propôs um protesto europeu.

CDU/CSU (democracia cristã, direita): Falou Andreas Nick. Mencionou a crise econômica, a perda de confiança do governo Dilma, escândalos de corrupção, o caso Petrobrás, a falta de reformas, a ameaça à democracia decorrente. Disse que os pressupostos da deposição eram discutíveis, que houve uma criminalização do opositor, mas que foi uma decisão política que não cabe ao Parlamento alemão discutir, nem se imiscuir no direito constitucional brasileiro. Disse que se trata de trabalhar com o novo governo, que a economia apresenta melhoras e que as mudanças na Amércia Latina em direção a um mercado livre são positivas.

BUNDNIS 90/GRUENEN (verdes): Falou Omid Nouripour. Disse que há uma queda de confiança nos partidos (Parteienverdrossenheit), que se mostrou na eleição municipal de outubro, que houve casos de corrupção, que a economia deveria ter sido diversificada, que houve falhas que Dilma e Lula deveriam ter visto, mas que houve enormes progressos que agora estão em risco. Disse que não usaria a palavra “golpe” (Putsch), mas que houve um COMPLÔ (Verschwoerung) apesar de as regras formais terem sido seguidas, e que voltaram as elites, de homens velhos e brancos. Disse que se trata de ver isso com cuidado.

SPD (Social-democratas): Falou Klaus Barthel. Disse que Dilma deveria ser a última a ser culpada de corrupção, que é mais íntegra que todos os que a depuseram, e que se se resolver apoiar a deposição de governos por crise econômica ou por perda de confiança vai haver isso o tempo todo, também “bei uns” (i.e. entre nós, na Alemanha). Mencionou a prisão de Cunha, a falta de apoio de Temer, disse que há uma crise do sistema político em geral, com 28 partidos e com o sistema de financiamento de campanha por doações empresariais, que houve a politização de questões de direito, que há um grave problema com os meios de comunicação. Que a economia alemã não deveria apoiar isso. Que está se aproveitando da desregulação do mercado e das privatizações para se agir de forma a manter “estruturas poscoloniais”. Que o governo alemão deveria se meter de forma massiva na situação do Brasil (aqui, contradizendo o colega do CDU), criticar o governo Temer e apoiar novas eleições.

Bom, c’est ça. ”

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