Por Gregorio Duvivier
O pior tipo de ateu é aquele que acredita em qualquer coisa. Este que vos fala se encaixa nessa categoria ridícula e indefensável: o ateu supersticioso. Aquele que não acredita em Deus mas acredita em pular sete ondinhas. Pra você não faz sentido? Pra mim também não.
Não adianta refletir e perceber que não faz sentido bater três vezes na madeira. Na teoria, sei que, se não existe Deus no céu, tampouco deve existir um deus na madeira, e mesmo que existisse, não vejo por que ele gostaria de apanhar. Na prática, não custa nada. Melhor bater.
Apesar de não acreditar em Deus, acredito em toda sorte de deuses e santos –muitos sem nome, humildes, carentes de pequenos agrados: aquela pitadinha de sal que você joga pra trás, aquele golinho de cachaça pro chão, os três pulinhos. Os santos do supersticiosos são baratíssimos.
Seria injusto dizer que acredito em são Longuinho. A verdade é que sou devoto. O que dizer desse santo que eu considero pacas? Já achou uns 17 celulares e umas 32 carteiras. Paguei com míseros 147 pulinhos (viva são Longuinho, viva são Longuinho, viva são Longuinho). Confesso que dei pulinhos extras quando achou uma carteira cheia ou um documento valioso. Mas ainda assim me sinto em dívida.,
Não basta brindar antes de beber: brindo olhando fundo nos olhos, de olhos bem abertos, pra deixar claro pra Divindade Reguladora dos Brindes que estou olhando nos olhos e que sou temente a Ela.
Não passo, nem que me paguem, debaixo de uma escada. Não importa que as mortes por motivos de “passou debaixo de uma escada” sejam zero. Não importa que, pra não passar debaixo da escada, eu passe no meio da rua, e que as mortes por atropelamento, essas sim, sejam milhares. Não importa. Não passo. E não falo, mas de jeito nenhum, aquela palavra que significa “falta de sorte”. Acredito na sorte mais do que na teoria da gravidade e acredito que a Lei de Murphy só funciona pra quem acredita nela. Podem checar.
Sei que nós, supersticiosos, somos motivos de chacota. Estamos batendo na madeira cada vez mais rapidinho, envergonhados. Pros religiosos somos pagãos, pros ateus somos estúpidos. Não há quem nos defenda no Legislativo ou no Judiciário. Por isso queria propor aqui a criação de uma bancada supersticiosa no Congresso. A primeira medida? O Dia de são Longuinho, em que a população dedicasse o dia a pular, unida, por tudo o que Ele nos achou nessa vida. Trata-se uma dívida histórica.