De Estocolmo – Wellington Calasans, colunista do Cafezinho
A parcialidade da velha imprensa familiar brasileira, sem precedentes no mundo, constrói um universo paralelo, decorrente da ausência de uma comunicação social plural, e consegue impor como verdadeira aos olhos da sociedade a estratégia de imagem de pessoas que seriam – para não dizer muito – motivo de piada em qualquer país minimamente sério. A blindagem de figuras como José Serra, por exemplo, tem como consequência natural os sérios danos que a sua prática política e pensamento tosco produzem contra o Brasil e os seus cidadãos.
Com um histórico extenso de impunidade, Serra continua a alimentar as suspeitas de que pratica crimes diversos de enriquecimento ilícito e contra o patrimônio público. Em uma ordem decrescente, mas não totalmente detalhada, as suspeitas iniciam nos recentemente revelados 23 milhões recebidos, na Suíça, em forma de propina, segundo as delações premiadas de quadros da Odebrecht, e culminam na origem do seu único projeto político, a privatização.
Não é preciso muita ginástica para afirmar que somente no Brasil, graças ao trabalho de blindagem da mídia e justiça, as revelações feitas pelo WikiLeaks – de que Serra prometera a entrega do Pré-sal a uma empresa estrangeira – não mereceram a devida atenção. O livro “A Privataria Tucana”, que todo brasileiro deveria usar como livro de consulta, é, mais que uma publicação, uma prova incontestável de que José Serra merece uma investigação isenta. Provavelmente, por saber que enquanto houver no STF personagens cômicos como o amigo Gilmar Mendes, a sua cara de pau estará devidamente impermeabilizada.
Por ser um político asqueroso, tipicamente canalha e que não resistiria a um único processo imparcial, José Serra segue na sua estratégia de viver uma realidade paralela, construída através da imprensa. Seja pela omissão dos escândalos nos quais está supostamente envolvido ou através da publicidade de uma imagem totalmente incompatível com a realidade, Serra continua a praticar absurdos e bancar o estadista, mas sabe que tem ido muito longe e, por conta disso, mesmo ao seguir incólume neste caminho incerto, começa a dar sinais de que as pernas das mentiras não aguentam mais alongar. E, muito provavelmente por isso, deu início aos preparativos para o seu plano de fuga.
A propósito da expressão “plano de fuga”, uma recente publicação da Veja (toc toc toc), afirma que Serra teria avaliado que “ao recorrer à ONU, Lula estaria criando as condições para pedir asilo a algum país amigo”. Serra segue a fingir ser um estadista ao avaliar que “Lula pode criar grave problema internacional para o Brasil, se assumir o papel de asilado político”. Tudo isso foi dito quando a justiça e a velha mídia ignoram a presença do tucano em mais uma investigação da Lava a Jato.
Ouso discordar de um dos melhores jornalistas brasileiros, Luis Nassif, que tem analisado com alguma preocupação o comportamento confuso de José Serra. Se, para Nassif, Serra dá sinais de “senilidade”, confesso que a minha desconfiança é outra. Longe de ser decrépito, Serra começa a construir nas entrevistas arrumadas, onde a Argentina é citada como país-membro dos BRICS, o próprio “plano de fuga”. Algum amigo jurista deve ter dito a ele que a demência senil permite a interdição civil e é realizada nos casos em que o interditando se encontra impossibilitado de realizar os atos da vida civil. O caráter de Serra não nos permite descartar a possibilidade do uso desse recurso quando, por algum motivo, a blindagem for rompida. A riqueza inexplicável da filha dele me conduz a este pensamento, mas isso merece um novo texto. Vou analisar melhor o assunto com a ajuda do livro do Amaury Ribeiro Jr.