Era apenas um pesadelo

Era apenas um pesadelo

dali

Por Alife Campos
No Eu Ideal!

Era um domingo, como outro qualquer. Quando deitada em minha cama, fui tomada por uma súbita sequência de imagens. Vieram como se fossem flashes de memória, de uma outra vida, há muito tempo atrás. Essa já é a quinta vez que isso me ocorre só esse ano!! Eu já contei sobre isso uma vez pra minha mãe. Ela disse que era bobagem, que criança não deve pensar! Que “Frescar de mais é perigoso pro juízo”. De fato ela deve estar certa…Afinal, ela é minha mãe. Ela já está aqui há muito mais tempo que eu e entende muito mais dessa vida!

Ultimamente tenho sido uma boa filha, não pergunto, não questiono, não faço nada além de seguir seus conselhos e tenho aprendido muito sobre a vida! Já sei até costurar, dá pra acreditar?! E não tem felicidade maior, nada melhor do que ver minha mãe faceira, de peito cheio e toda orgulhosa falando pras vizinhas que já sei fazer até arroz e feijão. Já to até pensando em arrumar um bico de cozinheira pros pião!

Esse dia foi exaustivo, to tão cansada que acabo por adormecer.

Sem saber o que me ocorre me vejo transportada à uma terra de um tal Lugar. Era estranho ver toda aquela gente, tão pobre e tão cheia de palavras! Era incrível como mesmo em meio a toda aquela simplicidade eles emanavam a felicidade. MEU DEUS!!! Lá, tinham tantas palavras! Tão lindas, tão belas e melodiosas, tão tantas! Devia ter uma palavra pra cada estrela daquele céu que jazia sob a bela fogueira. Tinham palavras para cada dia, palavras que não eram palavras, palavras de magia! Não eram ditas como palavras, mas de uma coisa eu tinha certeza! Aquele povo realmente amava as palavras. De repente, do meio daquela gente que tagarelava sem parar, saiu um bicho! Não um bicho qualquer. Mas um bicho que dizia-se de uma tal cidade avião de pindorama, que os antigos europeus chamavam de terra dos antípodas! Era de Denguê-Duragadá. Chegou cheio de promessas de riqueza e prosperidade, mas o único jeito seria em troca das palavras! O líder de Lugar fez com que todos pensassem que era o certo a se fazer, que as palavras… Elas não importavam tanto assim. E houveram poucos ousaram discordar, logo foram tidos como loucos! Mas foi respeitado a vontade do povo daquele Lugar. Mal se assinara o contrato e o bicho começou a tomar e arrancar sem dó ou piedade cada palavra que ousassem falar, principalmente daqueles que contra ele houveram de se posicionar. Grunhia e, sádico, gargalhava “Acho que o bicho comeu suas línguas?! HAHAHAHAHA” Ninguém ousava lhe desafiar. O povo cego pelas promessas de um Lugar melhor pestanejavam contra qualquer que falasse mal do Bicho. Um silêncio mortal tomou de conta daquele Lugar, que era, antes, tão cheio das mais diversas palavras. O bicho não fez exatamente o que prometeu, deu muita coisa! Mas só para alguns da gente do Lugar. Todos acabaram contentes com a migalha que lhes foi dada e logo se esqueceram de como era falar! As palavras pareciam nunca ter lhes pertencido, era de se lamentar! Ahhh mas aquele brilho que eles tinham no olhar… Era lindo de se ver! Mas que pena, mal posso recordar. O que me deixa mais triste é saber que ninguém mais verá os dias gloriosos das palavras daquele Lugar. De longe tudo assisti, sem nada poder fazer!.. E no meio dum temporal, com as telhas da minha casa se batendo, logo desperto; Mas eu tava tão feliz! aquilo foi apenas um pesadelo.

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