Mais um ministro, desta vez o da Cultura, Marcelo Calero, deixa o governo constrangido com o que chamou de “maracutaia”, manobra ilícita que políticos ou agentes públicos praticam para favorecer uns e outros.
E quem apelou à traficância política para se dar bem, segundo Calero, foi Geddel Vieira Lima, ministro da Secretaria de Governo que o teria pressionado a acelerar a liberação de um prédio de 30 andares no centro histórico de Salvador, junto ao iPhan, instituto responsável pelo patrimônio histórico nacional.
Geddel tem um apartamento no espigão e com as obras embargadas teria dito a Calero: “E aí, como é que eu fico nessa história?”.
Não é a primeira vez que recaem suspeitas contra Geddel por favorecimento ilícito, o crime praticado por ‘amizade’ ou medo mesmo.
Ele apareceu nas investigações da Lava Jato em mensagens que indicam que usou sua influência para atuar em favor dos interesses da construtora OAS dentro da Caixa e também na Secretaria de Aviação Civil e junto à Prefeitura de Salvador.
A denúncia que Calero jogou no colo de Michel Temer exige resposta imediata e o que se espera é o afastamento do cargo.
Mas, o que chama atenção quando um ministro do governo golpista cai – e já é o quinto – é a passividade da sociedade brasileira diante da sujeira que aparece quando um levanta o tapete.
Muitas pessoas na sala de jantar ainda parecem ocupadas só em nascer e morrer, como questionado pelo tropicalismo da década de 60.
Se não, por que ‘deixaram pra lá’ a denúncia do ex-chefe da Advocacia-Geral da União, Fábio Medina Osório, que ao sair acusou o governo de colocar obstáculos para tentar abafar as investigações da Lava Jato?
Por que a ‘maioria’ se resignou à nomeação de 15 ministros investigados na justiça, réus em processos ou citados na operação que revelou o esquema criminoso na Petrobras?
Por que esqueceram os áudios que derrubaram Romero Jucá do Ministério do Planejamento, em que confessou o plano diabólico para conter o avanço da Lava Jato?
Pior, por que se ele não pode permanecer ministro, faltou protesto contra sua indicação como líder do governo no Congresso Nacional?
Por que a grande mídia não cobra a investigação da denúncia de que Odebrecht deu R$ 23 milhões ao ministro das Relações Exteriores, José Serra, por meio de caixa 2, para sua campanha à Presidência da República em 2010?
E por que todos não se incomodam com isso?
É inexplicável esse silêncio ensurdecedor com a mudança da versão do empreiteiro Otávio Marques de Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, sobre o cheque de 1 milhão de reais pagos pela empresa para a campanha de Dilma e Temer?
Até a defesa da ex-presidenta provar que o dinheiro entrou em cheque nominal a Temer, o que o prejudicaria na tentativa de separar as contas de campanha, o empreiteiro disse que era propina, agora é doação lícita.
Mais difícil do que compreender tantas denúncias de corrupção contra o governo que só tem seis meses é explicar a tolerância da sociedade.
E, pasme, ainda tem muita gente repetindo que Lula personifica a corrupção na política e que o PT é o partido que mais se beneficiou com crimes contra a administração pública.
Esse povo tem que se juntar ao militantes de extrema-direita que invadiram a Câmara para pedir a volta dos militares, porque não é só mais uma questão de descaramento, mas de insanidade.
Essa gente covarde esteve misturada aos loucos em manifestações a favor do impeachment, também sem contestação ao apelo à intervenção militar.
Se juntem novamente e peçam intervenção psiquiátrica!
Quem já admitiu que a corrupção está entranhada nos poderes desde sempre e que a tendência é piorar com a aceitação de tudo que está posto, deve se unir, ir às ruas.
O debate sobre quem roubou mais ou menos só fez bem aos que mais roubaram.
É justo que o PT suporte a derrota acachapante nesta eleição, mas faz sentido o PSDB se vangloriar como partido mais votado?
Nem que seja às paredes, confesse.
O sociólgo Emir Sader, resumiu que “Em 6 meses, o Brasil ficou menor, injusto, menos democrático e irrelevante.”
Perfeito.
Só acrescento mais passivo com a corrupção.