“Um dia eu mesmo me rotulei de vice-presidente decorativo porque eu não tinha participação.” Era o que Michel Temer dizia quando perguntado sobre o que sabia “da corrupção no PT” na época em que era vice-presidente.
E disse isso, porque na carta que enviou à ex-presidenta Dilma Rousseff antes de tornar pública a sua participação no golpe, Temer premeditadamente, insinuou ter passado “os quatro primeiros anos de governo como vice decorativo.”
Pra muita gente, pasme, colou.
Mas, e agora?
Vai manter como a cara de paisagem diante do último escândalo, o que o colocou na vitrine junto com o ministro da secretaria de governo, Geddel Vieira Lima, acusado de agir sorrateiramente para liberar as obras de um prédio onde tem um apartamento?
Se Temer tivesse afastado Geddel após confessar que ligou para o ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, pra pressioná-lo a intervir junto ao Iphan, talvez ninguém soubesse que familiares dele fazem a defesa do empreendimento embargado.
Tá certo que o presidente já repetiu que não dá a mínima para a opinião pública, mas a cara de paisagem só piorou e muito a imagem decorativa dele e da espelunca de governo que montou.
A conduta de Geddel passou a ser investigada na Comissão de Ética Pública da Presidência por força de um requerimento da oposição.
A imprensa não deu refresco e até o jornal O Globo pediu a cabeça de Geddel em editorial.
A Polícia Federal ouviu o depoimento de Calero e encaminhou ao Supremo Tribunal Federal que mandou à procuradoria-geral da República para decidir se pede ou não a abertura de inquérito.
E o mais grave, Calero disse à PF que o próprio Temer pediu pra acelerar a liberação do empreendimento imobiliário.
Eis um trecho de seu depoimento:
“Que na quinta, 17, o depoente foi convocado pelo presidente Michel Temer a comparecer no Palácio do Planalto; que nesta reunião o presidente disse ao depoente que a decisão do Iphan havia criado ‘dificuldades operacionais’ em seu gabinete, posto que o ministro Geddel encontrava-se bastante irritado; que então o presidente disse ao depoente para que construísse uma saída para que o processo fosse encaminhado à AGU [Advocacia-Geral da União], porque a ministra Grace Mendonça teria uma solução (…) Que, no final da conversa, o presidente disse ao depoente ‘que a política tinha dessas coisas, esse tipo de pressão'”.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) disse que vai protocolar o pedido de impeachment de Temer, por crime de responsabilidade ao praticar advocacia administrativa.
Temer está encurralado.
Mais dia menos dia, voluntariamente ou não, o decorativo terá que se mexer.