A canalha se ajuntou de novo, a canalha!
Em torno da mesma mesa e toalha
E acanalhando-se outra vez
Acanalhou-nos a todos, a canalha!
A canalha é ávida e inquieta, a canalha!
tem a audácia do corvo e a avidez da gralha,
com bico de urubu fuça a mortalha,
a canalha não larga o osso, a canalha!
No jogo do faz-desfaz, a canalha
nos mantém no fio da navalha,
vive brincando com o fogo
e sai rindo da fornalha, a canalha!
Achincalha tudo o que toca, a canalha!
E ela nuca tarda e nunca falha,
sabe onde semeia e amealha,
mistura o trigo com a palha, a canalha!
Trabalha em silêncio, a canalha!
E pode ter cara jovem ou grisalha.
De novo vão fazer o banquete
e nos jogar a migalha, a canalha!
A canalha não tem ética, a canalha!
Mostra os seus brasões e medalhas,
guarda os cofres na muralha
e faz da história uma bandalha, a canalha!
Diante dessa canalha
não sei se é melhor falar direto
ou se a metáfora atrapalha.
Bato no meu poema ou cangalha
e denuncio à minha gente a gentalha.
Pudesse fugir, fugia
para Pasárgada, Maracangalha,
Diante dessa canalha
Valha-me Deus!
e o próprio demônio valha!
SANT’ANNA, Affonso Romano de . O lado esquerdo do meu peito: livro de
aprendizagens. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.