Por Kiko Nogueira
No DCM
Duas instituições conseguiram unir um país fragmentado profundamente: a Chapecoense e o STF.
No primeiro caso, a tragédia fez com que mostrássemos uma faceta solidária e compassiva, íntegra. Nem piadas, que na morte de Senna, por exemplo, surgiram em questão de horas, foram toleradas. Se existiram, ninguém viu.
No segundo, a tragédia a nos unir foi o acordão, que se é que se pode chamar assim, em torno de Renan Calheiros no Supremo Tribunal Federal.
Por seis votos a três, o afastamento de Renan da presidência do Senado foi derrubado, mas ele fica proibido de ocupar a presidência na ausência de Temer.
Os seis ministros que votaram a favor dele não acataram a liminar açodada de Marco Aurélio Mello. Desmoralizado, Marco Aurélio falou à Jovem Pan que partimos para “o famoso jeitinho brasileiro” e que o Supremo saiu “desgastado” do episódio.
Antes, Gilmar Mendes já tinha pedido o impeachment do colega. De acordo com Lauro Jardim, do Globo, ao saber da decisão de Marco Aurélio, Renan conversou com um ministro que “o orientou a não receber o oficial de Justiça”.
Ganha um sorvete de acerola quem souber o nome do homem.
Renan mostra que pode tudo, inclusive desobedecer o mais alto tribunal. Em troca, o projeto de abuso de autoridade sai do regime de urgência e Renan fica à vontade para tocar a PEC 55 e terminar o serviço com a aposentadoria.
Teve a desfaçatez de cravar que a “a separação dos poderes continua inabalada”.
À esquerda, à direita e ao centro houve uma repulsa e uma decepção gigantescas — especialmente entre aqueles que ainda acreditavam na Corte depois de seu papel no golpe.
Os coxas que pediram a cabeça de Renan levaram uma traulitada do tamanho de sua indigência mental. Segundo o Vem Pra Rua, “está bem difícil explicar essa decisão aos brasileiros do bem”.
No Estadão, José Nêumanne Pinto, colunista e editorialista, escreveu que os chefes dos três Poderes da República deram uma “cusparada no povão”.
“Cármen Lúcia conspirou com o vice do Senado, Jorge Viana (PT-AC), para atender às conveniências do chefe do Executivo, Temer, em consonância com a cumplicidade muda do presidente da Câmara. Vergonha geral!”, diz.
Lula tinha avisado. Em março, nos grampos vazados por Moro ao Jornal Nacional, ele lembrou que “nós temos uma Suprema Corte totalmente acovardada, um Superior Tribunal de Justiça totalmente acovardado, um Parlamento totalmente acovardado”.
Na mosca.
A turma de Cármen Lúcia fez o milagre de unificar o nosso Paraguai.