Bloco Mistura Fina – 32 anos
(1984 – 2016)
Por: Altair Santos (Tatá)
Reza um dos sagrados e invioláveis mandamentos constitucionais da pátria carnaval: “nada melhor e mais auspicioso e de bom presságio, que fazer a travessia fronteiriça de um ano pro outro, envolto de corpo, alma, espírito, juízo e sombra, na alegria do ritual carnavalesco do Bloco Mistura Fina.” Todo cidadão portovelhense, os nascidos e os aqui radicados deviam, ao menos uma vez em suas vidas, no dia 31 de dezembro, quedar ao experimento indescritível e inenarrável de desfilar na Meca do Pó da Maizena, onde tremula alvissareira uma das notáveis bandeiras da alegria tupiniquim.
Além de se esbaldar na folia os foliões sentiriam em suas peles e cabelos os benéficos, terapêuticos e estéticos resultados do amido e, em suas cucas, impregnada, a transformação e a vastidão cultural causada pelo protéico e saudável consumo de samba, sem moderação.
O bloco é uma tradição de mais de trinta anos da nossa capital, um debulhar festivo com o lenço do adeus ao ano velho e o tilintar das taças em brindes esperançosos e de boas vindas ao ano novo, tudo isso de reboque no aroma, tempero e pulsação de marchinhas de carnaval, frevos e sambas de enredo. Noutras, é um avant-première do carnaval a porvir numa das cidades onde mais se brinca a folia de momo no norte do país em que pese cá nessas paragens, a mais popular e consagrada modalidade da cultura popular brasileira tenha sido maltratada ao plano do “cachorramente pirenta sem direito a Neocid” nos últimos quatro anos.
O Mistura Fina nasceu da iniciativa de funcionários da Usina Hidrelétrica de Samuel vindos do Rio de janeiro e doutros estados por volta de 1984 e se reunia no Bar da Luzia, na confluência das Ruas Almirante Barroso e Joaquim Nabuco. Nessas ocasiões os trabalhadores improvisavam um réveillon que os animasse, no último dia do ano, já que estavam longe de casa.
A tristeza e orfandade desses pioneiros logo seriam aplacadas. Bambas do samba daqui, comparsas de Zé Pereira, Deus Baco e outros festeiros, carnavalescamente abduzidos se alistaram naquela sucursal momesca engrossando as fileiras desta confraria que é o primeiro cordão carnavalesco a desfilar todos os anos na cidade.
Após o saírem da linha de frente os primeiros organizadores a providência para manter viva a tradição hoje se dá com as expensas, esforços e iniciativas dos diretores e brincantes da Escola de Samba Asfaltão, além de amigos, e conta com a rica presença de artistas e foliões amantes da cultura popular que se deslocam doutros longes da grande Porto Velho para se enevoarem no sacratíssimo rito do pó da maisena que unta o corpo dos foliões e se traduz na fantasia esbranquiçada da irreverência e da alegria, no entardecer do dia 31 e dezembro.
Superando três décadas de existência o bloco Mistura Fina já fora (até 2012) pauta da programação oficial do município quando o seu desfile era amparado por Decreto Municipal assinado pelo Prefeito. Por este ato o bloco era, sem pretensões e sem perseguições, perturbações ou desleixo público, a abertura do Período de Carnaval na capital. Doravante, chancelados pelo valor do decreto da Alcadia, Blocos e Escolas de Samba estavam aptos a aviar seus corres e demais preparativos como ensaios, montagens e outros trâmites, possíveis aos seus carnavais.
Hoje o cordão e demais agremiações, sejam outros blocos ou escolas de samba, se ressentem dessa simples, porém importante, guarida municipal que não só avalizava, mas também, reconhecia a importância do carnaval, esse bem patrimonial imaterial, ícone inconteste da cultura popular e a necessidade da sua prévia e melhor preparação e organização.
O retiro festivo-profano, no qual se exorta os homens de mau e as coisas ruins e onde se canta e dança a paz, a vida e a alegria de viver, já há alguns anos, se dá ritualisticamente a partir da esquina das Ruas Bolívia e Joaquim Nabuco (Bairro Santa Bárbara – no conhecido Bar do Antonio Chulé). No derradeiro dia do ano, a partir do meio dia, vários sambistas já se revezam cantando uma infinidade de sambas de autoria dos compositores locais e nacionais aquecendo os ânimos para o desfile que, animadamente acontece sob a névoa da maizena, até a boquinha da noite, serpenteando algumas ruas do centro.
É depois do Bloco Mistura Fina e seus efeitos que os indestrutíveis foliões da cidade porto avaliam suas formas físicas, “e se mancam” em preparativos, atualizando suas resistências pra quando fevereiro chegar dando as cartas festivas e espocando blocos, escolas de samba e bailes pra tudo que é lado.
Agende, participe, prestigie a nossa cultura popular.
Programa
• O que é: Cultura popular
• Evento: Réveillon do Bloco Mistura Fina – 32 anos
• Quando: 31 de dezembro/2016
• Horário (concentração): a partir das 12:00h
• Horário (saída do bloco): 17:00h
• Local: Rua Joaquim Nabuco esquina com Rua Bolívia (Bairro Santa Bárbara)
• Sugestão: leve a sua alegria e sua paz como fantasia e o pó da maisena como maquiagem.
tatadeportovelho@gmail.com