É cada vez maior o número de denúncias contra praticantes da Islamofobia, que é a propagação da repugnância aos muçulmanos e à doutrina islâmica. Os muçulmanos que vivem no Brasil afirmam que a discriminação por ignorância piorou muito no governo Temer.
Por ignorância e preconceito, extremistas lançam nas redes sociais discursos de incentivo à perseguição aos que têm Maomé como profeta maior e não Jesus Cristo.
O crescente clima de ódio despejado nas mídias digitais envolve militantes de todas as camadas sociais.
O mais grave, no entanto, é identificar nomeados em funções relevantes de órgãos públicos federais em campanhas de intolerância religiosa.
É o caso do Doutor em física, Fabrício Moraes de Almeida, professor e chefe do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Rondônia –UNIR, que exerce também a função de avaliador de curso de graduação e Institucional do INEP, órgão ligado ao Ministério da Educação.
Ele participa do processo que garante autorização pra abertura de cursos superiores no Estado, fornecendo indicadores que subsidiam a regulamentação junto ao MEC.
Sem nenhum pudor ou preocupação com a responsabilidade social que os cargos lhe impõem, o doutor Fabrício escreveu num grupo de WhatsApp denominado ‘Rondônia é da Gente’, que “Muçulmano é a desgraça que assola a humanidade”.
Na contramão dos ensinamentos do profeta Mohammed, ou Muhammad, chamado pelos ocidentais de Maomé, o avaliador do Inep elencou como prática dos muçulmanos “matar infiéis, tomar suas esposas e tomar suas propriedades”.
O doutor Fabrício tem histórico de declarações polêmicas nas redes sociais e uma delas resultou em condenação de oito mil reais por dano moral em sua página no Facebook, a outro docente, hoje reitor.
Ele também teve julgadas irregulares as contas do Termo de Concessão e Auxílio a Projeto de Pesquisa, junto à Universidade Federal do Mato Grosso por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Mato Grosso, da qual era gestor.
O Tribunal de Contas do Estado do Mato Grosso declarou Fabrício “inabilitado, pelo prazo de cinco anos” para receber benefícios junto à Fundação e ordenou a restituição de 20 mil reais com aplicação de multa.
Mas, em maio deste ano, o doutor Fabrício foi homenageado pela deputada Mariana Carvalho (PSDB/RO) no plenário da Câmara, como “pessoa comprometida com o ensino superior”.
Além de associar abertamente o terrorismo aos seguidores da fé islâmica, o professor universitário adota em seu Facebook um posicionamento anti-petista, anti-esquerda e compartilha notícias de movimentos como MBL e MCC, que representam a direita mais raivosa e estúpida desde a redemocratização.
Em Rondônia a nova declaração irresponsável do avaliador do INEP chocou a comunidade islâmica, que promete protocolar denúncia junto ao Ministério Público Federal e à Comissão de Direito e Liberdade Religiosa da OAB-SP, que tem promovido congressos e até lançou manifesto de combate à intolerância de credo na internet.
Os extremistas que agem impunemente nas redes sociais miram o preconceito em relação aos muçulmanos, como forma de induzir outros a acreditarem que todos que professam a religião islâmica têm responsabilidade por ataques terroristas praticados por uma minoria radical.
Segundo denunciou The Intecpet Brasil, “Essa cultura de suspeição oficial estimulou crimes contra a comunidade e incidentes islamofóbicos. Como consequência, muitos muçulmanos não se sentem seguros nas suas próprias cidades, tanto nos Estados Unidos quanto em outros países.”
Destaca ainda que no governo Temer os muçulmanos passaram a sentir mais o peso não só do preconceito na sociedade, mas o medo de perseguição por parte das forças de segurança do país.
“A ascensão do governo de Temer trouxe significativas mudanças na política do Ministério da Justiça em relação, sobretudo, aos refugiados no Brasil”, diz o historiador Renato Cristofi, mestre pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador da história das relações entre Oriente e Ocidente.
Ao The Intercept Brasil, Cristofi disse que a maioria dos critérios para a vigilância de muçulmanos brasileiros são “nitidamente preconceituosos” e que essa política demonstra “despreparo e desconhecimento” sobre o terrorismo e o fundamentalismo islâmico por parte da atual pasta da Justiça, que tem o ministro Alexandre de Moraes à frente.
O último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, apontou cerca de 35 mil fiéis, mas associações islâmicas brasileiras estimam um número entre 800 mil e 1,5 milhão.
“Segundo as organizações, existem hoje cerca de 50 mesquitas e mais de 80 centros islâmicos espalhados pelo país. Historicamente, há registros da presença de muçulmanos desde o século 16, com a chegada de escravos que vinham de regiões da África onde já havia adeptos do Islã, como o Golfo da Guiné. Desde essa época foram perseguidos pela Inquisição portuguesa no Brasil e, em alguns casos, foram até obrigados a se tornar cristãos pelos donos do engenho”.