Tijolaço – O desgaste de um governo pode ser avaliado por pesquisas, mas também pela relação de seus áulicos.
Quando sentem o naufrágio, o abandonam com a maior sem-cerimônia.
A coluna de Ricardo Noblat, que dizia há um mês e meio que ” quem conquistou dona Marcela não se deixa abater por nenhuma dificuldade”, hoje, em O Globo, chama o presidente de “duro, insensível, desastroso” e de “mesquinho”.
Como Temer não parece ter mudado tanto em tão pouco tempo, deixo por conta do leitor e da leitora achar de quem foi a metamorfose, transcrevendo parte de sua coluna:
Que futuro nos aguarda
Ricardo
Um prodígio, o presidente Michel Temer e seu time de auxiliares. Empenhados em marcar distância de mais uma erupção da bestial violência que há décadas abala o apodrecido sistema carcerário brasileiro, eles conseguiram com espantosa facilidade justamente o contrário.
Ninguém de bom senso ligaria o governo atual ao que aconteceu no Amazonas e em Roraima. Então o governo meteu com gosto o dedo na tomada.
Primeiro foi Temer, que chamou de “acidente pavoroso” a morte e o esquartejamento de 57 presos numa penitenciária próxima de Manaus. Acidente é um fato casual.
Num país onde mais de 60 mil pessoas são mortas a cada ano e 11 Estados registraram decapitações desde a rebelião do presídio de Pedrinhas, em São Luís, em 2013, acidente pode ter sido a ascensão de Temer à presidência – não a chacina de Manaus.
Não se atribua o que ele disse a uma mera infelicidade na escolha das palavras. Temer é um homem culto, prudente e pensa muito antes de falar.
Ao taxar um massacre de “acontecimento pavoroso”, quis isentar seu governo de qualquer responsabilidade e minimizar o acontecido. Foi duro, insensível, desastroso. Deixou-se levar pelo cálculo político mesquinho.
Depois de Temer, foi o ministro da Justiça. Além de apresentar um arremedo de plano para reformar o sistema carcerário sem dotação orçamentária e sem metas, negou que tivesse recusado ajuda ao governo de Roraima onde 30 presos foram decapitados ainda vivos e alguns tiveram corações e olhos arrancados.
O ministro mentiu. E mentiu de novo ao garantir que a situação dos presídios está sob controle. Controle de quem?
O caminhar voluntário do governo para o cadafalso na semana passada culminou com a intervenção do Secretário Nacional da Juventude que se apresentou como “um coxinha”, elogiou o “acidente” em Manaus e defendeu novas matanças.
Foi o único a ser demitido depois de incensado nas redes sociais. Mais de 50% dos brasileiros pensam como ele. E é aqui que reside o maior problema.