247 – O grupo Globo de comunicação, principal avalista do golpe parlamentar de 2016, quer a cabeça de Alexandre de Moraes, atual ministro da Justiça de Michel Temer.
O recado foi transmitido na capa da revista Época deste fim de semana, em que Moraes é classificado como “o homem errado no lugar errado”.
Segundo a Globo, que já pediu demissões de vários ministros e sempre foi atendida, Moraes é hoje um causador de crises para Temer.
De acordo com a reportagem, Carmen Lúcia, presidente do STF, também se queixou de Moraes.
Abaixo, um trecho da reportagem de Alana Rizzo e Talita Fernandes:
O atual, Alexandre de Moraes, está há nove meses na cadeira. Tem mais três meses para alcançar a média de seus antecessores. Caso continue falando e agindo como se ainda fosse secretário de Segurança de São Paulo, alheio à dimensão das encrencas de Brasília e do país, talvez não dure tanto. Desde que assumiu o cargo, Moraes parece deslumbrar-se com a montanha de poder que lhe assomou e ignorar a outra, a dos problemas. Uma semana depois de tomar posse na Pasta, ele não conseguia esconder uma alegria quase infantil em ocupar o cargo.
(…)
Em encontro no fim de semana passado, Cármen não escondeu do presidente sua antipatia por Moraes: “O ministério da Justiça deveria falar menos e fazer mais…”. Temer ouve reclamações semelhantes com frequência.
A reclamação discreta da presidente do Supremo causou preocupação no Palácio do Planalto. Em uma conversa com Moraes, Temer recomendou que ele evitasse ao máximo qualquer altercação com Cármen Lúcia. O presidente viu-se obrigado a explicar o óbvio: o governo só tem a perder ao enfrentar a presidente do Supremo. Especialmente no momento em que a cúpula do Judiciário acumula embates com o Legislativo, toma decisões que afetam diretamente as relações financeiras entre a União e os estados e, não menos importante, está prestes a se debruçar sobre processos da Lava Jato que podem envolver centenas de políticos – sendo muitos ligados também ao atual governo. Temer assegurou ao ministro que, por mais que Cármen Lúcia se reunisse com integrantes do Executivo para buscar soluções para a crise, é ele, Temer, que dará ou não as ordens para qualquer colaboração. Ter de explicar o óbvio da política brasiliense – mais uma vez – para um ministro da Justiça demonstra que o ministro da Justiça está criando crises em vez de resolvê-las.
Temer sabe disso, mas reluta em demitir Moraes por duas razões. Primeiro, porque gosta do subordinado e aposta nele como nome para o Palácio dos Bandeirantes em 2018. Em segundo lugar, porque ele não enxerga alternativa melhor para um cargo tão difícil. O presidente não ignora, igualmente, o peso do desgaste político de outra demissão no alto escalão de um governo ainda frágil.