No 247
Alex Solnik
Era compreensível que, no início desse governo ilegítimo, pessoas de bem tivessem aceitado convite para trabalhar em altos cargos, esperando que o diabo não seria tão feio como se pintava e que eles poderiam, de alguma forma, contribuir para a sua redenção.
Mas os fatos não ajudaram a embelezar o Coisa Ruim.
O primeiro ministro a abrir mão de seu cargo voluntariamente foi Marcelo Calero, da Cultura.
Ele não saiu somente por ter sido pressionado pelo braço direito de Temer a liberar um prédio com vista para o mar em Salvador, um episódio menor na barafunda que o país é obrigado a contemplar diariamente, mas porque percebeu que aquele não era um lugar para pessoas honestas, como ele.
De lá para cá, o mar de lama não parou de subir.
As últimas revelações extraídas de um dos celulares de Eduardo Cunha – sabe-se lá quantos aparelhos ele operava – em que empréstimos milionários da Caixa são negociados por baixo do pano com lucros extraordinários por Geddel Vieira Lima e por Eduardo Cunha e em que o “Boca de Jacaré”, assim chamado pelo operador Bolonha Funaro dada a sua ganância tira um sarro de Cunha – “você acha que eu sou aqueles ministros que você indicou” – deveria servir como divisor de águas.
Ou os ministros honestos deixam o governo imediatamente ou correm o risco de serem vistos como os indicados por Cunha e então as suas biografias irão para a mesma lata de lixo em que já está a dele.
Os ministros honestos deveriam sair do governo para sabermos se há ministros honestos no governo.
Está na hora de separar o joio do trigo.
Mirem-se no exemplo de Marcelo Calero.