PANGLOSSISMOS

PANGLOSSISMOS

PUTOS

Por Lelê Teles

não é preciso exercícios pernósticos de semiologia para perceber que os nossos heróis de araque aí de cima estão a bufar.

pose para as câmeras.

veja esse sujeito regando uma planta na chuva. não se parece com essa encenação tosca que estamos a ver na imprensa nos últimos dias?

com mil diabos.

o ministro da justiça – faca nos dentes e facão na mão – investe, quixotescamente, contra uma plantação de maconha, enquanto seus camaradas o observam de braços cruzados.

joão doria se travestiu de gari – não sem antes pedir ao seu alfaiate para ajustar o modelito ao seu biotipo -, chamou uns fotógrafos da mídia-amiga e varreu meio metro de calçada que já estava devidamente varrida.

toda essa mise-en-scène é parte da agenda de desinformação da turma da alfafa.

o que querem dizer com isso é que “tudo está para o melhor no melhor dos mundos”, como ensinou o dr. pangloss.

pangloss, personagem que voltaire construiu para destruir o otimismo infantil de leibiniz, parece ser o grande mentor dessa gente.

o presidente vai anunciar cortes profundos nos direitos dos trabalhadores, o que vai pesar diretamente na mesa do cidadão.

aí ele pensa: e por que não fazer isso durante um banquete?
e pimba, contrata um catering para distribuir salmões e camarões para os convivas brancos, machos e endinheirados.

afinal, está tudo maravilhosamente indo bem no melhor dos mundos.

há rebeliões nas penitenciárias, ouvimos gritos vindos do norte.
não se preocupem – tranquiliza o careca capinador de maconha – , está tudo sob controle.

mas, ministro, arrancaram cabeças, e o senhor havia recebido um pedido de ajuda antes da cobra fumar.

olha, rapaz, você tem razão, diz o ministro. é que eu não me esqueci de esquecer que tinham me avisado.

agora o senhor me dá licença que tenho que ir a um coquetel.
o país está em crise econômica, o que fazer?

vendam o petróleo para os estrangeiros, mitiga parente. e olha, a preço de água mineral, ouviu?

já são 12 milhões de desempregados, o pib cai e a economia anda em marcha à ré…

enquanto isso, a senhora cunegundes resolve redecorar o palácio e depois relaxa na banheira, com sais.

como se vê, tudo está para o melhor no melhor dos mundos.

a popularidade do presidente tá ridiculamente baixa?

não se preocupem com isso, disse o neoguru nizan guanaes, veja o lado bom da coisa.

a impopularidade é o combustível que move os homens públicos a tomarem medidas impopulares.

sentenciou o dono da áfrica, confirmando a assertiva do idiossincrático pangloss.

afinal, não há efeito sem causa.

sejamos práticos, os caras arrancaram dilma do poder pelos cabelos, meteram o pé na porta e caíram pra dentro.

como retaguarda, há um exército de midiotas que os protege nas redes. são os chamados zero à direita, como nos ensinava o poeta italiano trilussa.

um zero à esquerda, dizia trilussa, de nada vale. mas se você perfila esse mesmo zero ao lado direito de um número um, os dois já valem 10.
dois zeros à direita, e o mísero 1 se converte em 100, daí para mil, um milhão, depende somente da quantidade de zeros à direita.

assim, a mídia vai manipulando os fantoches ajumentados, construindo candidatos artificiais e engrossando o cordão dos porraloucas.

orientam quando devem e quando não devem bater panelas, quando devem e quando não devem ir às ruas, etc.

e para dar legitimidade ao ilegítimo, criam factoides.

com dilma os jornais só falavam em crise. agora não falam mais.
afinal, tudo está para o melhor no melhor dos mundos.

a aposentadoria tardia vai pesar muito nas costas de cortadores de cana, pedreiros e estivadores?

bobagem, diz a revista, mirem-se no exemplo de mick jagger.

sorria e rebole enquanto trabalha e você fará isso até os 73anos, no mínimo, e de boa.

o otimismo delirante que vemos em manchetes de jornais e no sorriso insensível dos golpistas é apenas mais um produto da indústria do simulacro e da simulação do qual nos fala baudrillard.

eu, nutrido pelo pessimismo consciente de nietzsche e schopenhauer, faço um lembrete aos golpistas:

deu ruim pro cândido, viu.

e oh, quando cacambo, seu infeliz criado, pede que seu senhor lhe explique que fuleiragem é essa filosofia otimista panglossiana, cândido, já desiludido de mentir para si mesmo, retifica, candidamente:

“é a mania de sustentar que tudo vai bem quando tudo vai muito mal.”
por isso, precisamos cultivar o nosso jardim.

palavra da salvação.

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