Por José Alves Pereira Filho
Dizem ter sido “…um soldado que teria se alistado no exército romano por volta de 283 d.C. com a única intenção de afirmar o coração dos cristãos, enfraquecido diante das torturas.
Era querido dos imperadores Diocleciano e Maximiano, que o queriam sempre próximo, ignorando tratar-se de um cristão e, por isso, o designaram capitão da sua guarda pessoal, a Guarda Pretoriana. Por volta de 286, a sua conduta branda para com os prisioneiros cristãos levou o imperador a julgá-lo sumariamente como traidor, tendo ordenado a sua execução por meio de flechas (que se tornaram símbolo constante na sua iconografia). Foi dado como morto e atirado no rio, porém, Sebastião não havia falecido. Encontrado e socorrido por Irene (Santa Irene), apresentou-se novamente diante de Diocleciano, que ordenou então que ele fosse espancado até a morte. Seu corpo foi jogado no esgoto público de Roma. Luciana (Santa Luciana, cujo dia é comemorado a 30 de Junho) resgatou seu corpo, limpou-o, e sepultou-o nas catacumbas”.
Esta data me faz lembrar de minha vó paterna, Chiquinha, pois como devota do Santo fazia, todo dia 20 de Janeiro, em sua casa, novena.
A devoção dela se justificava, por ter sido vítima de uma brutalidade de vovô, que ao chegar em casa, bêbado, insinuou que ela o traía. Não se fazendo de rogada retrucou dizendo que ele era sim “corno, corno, três vezes corno, tabaqueiro dos cornos”.
Acordou nos braços do Dr. Otacílio Jurema, o qual conseguiu costurá-la das quatorze facadas que lhes foram deferidas na região da barriga.
Nós saíamos de casa a pé boca da noite e após a caminhada de quase 1,5 km, exaustos, íamos bebera água fria, guardada no pote.
Assistíamos àquelas rezas e recordo que eu e os irmãos menores (Luciano, Jacinta e Marcos), ao ouvirmos as ladainhas e os cantos chorosos ( Ah nós descei, Divina Luz!/ Ah nós descei, Divina Luz!/ Em nossas almas acendei/ O amor, o amor de Jesus!), pegávamos no sono, só despertados quando ela nos servia ki-suco de groselha, com bolacha Maria.
Encerrada a solenidade, voltávamos para nossa casa felizes e satisfeitos.
Como bem disse Drummond “Há duas épocas na vida, infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons”.
Acredito que meu bombom era aquele ki-suco, a bolacha, o canto triste de minha vó, cuja tristeza, sem dúvida, reportava-se às facadas de que um dia fora vítima.