Os prefeitos tucanos de São Paulo João Doria e, de Porto Velho, Hildon Chaves, foram comparados pela revista Veja durante a campanha por terem perfis semelhantes, sobretudo pela vocação empresarial, fortuna e por nunca terem ocupados cargos políticos.
Fora isso, tinham e mantêm discurso semelhante com destaque para a promessa de parcerias público-privadas como forma de ampliar as ações do executivo e estimular a ação cidadã.
Doria já executou serviços de limpeza em monumentos e pontes e planeja reformar albergues, banheiros públicos e recuperar carros da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), que não circulam por falta de manutenção, sem gastar um centavo da prefeitura.
Hildon garantiu a pintura de um calçadão recentemente inaugurado no Mercado Cultural com a boa vontade de um empresário que vende tintas e outras parcerias estão sendo planejadas. Um secretário me informou que o dono de um pub vai fazer a gestão de eventos no espaço.
Há quem enxergue a parceria a ‘custo zero’ como exemplo de cidadania e uma eficiente ação de marketing.
Mas, será mesmo só isso que motiva empresários em tempos de crise a cumprir o papel do poder público?
E se for só isso, pelo compromisso social e possibilidade de retorno financeiro com o valor agregado pela ação de marketing, por que não há publicidade para que se forme uma fila de interessados?
É o que pergunta Alexandre Motonaga, professor de Parceria Público-Privada e direito tributário da Faculdade Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo. “Eventualmente uma outra empresa poderia querer fazer essa ação. E se levanta a questão: por que foi escolhida a empresa B e não a C?”.
São perguntas que poucos fazem e posteriormente se dedicam a fiscalizar se as parcerias não se converteram em outros ganhos.
Alguém acredita mesmo que a relação entre o doador e o gestor público se encerra com a entrega de um serviço a título gratuito?
Seja como for, gozar de trânsito desobstruído com o prefeito, já é uma vantagem sobre os demais.
A questão da PPP a custo zero não pode ser vista com deslumbramento.
Não, no país que tomou ciência da relação promíscua entre políticos e empresários através da Operação Lava Jato.
O que foi contabilizado como doação em campanhas eleitorais por décadas, foi retribuído em obras milionárias com cobrança de propinas.
Empresas nacionais e globais superfaturaram contratos em todo o país, embora os responsáveis por obras de governos tucanos em São Paulo sigam à margem das investigações.
Mas, não esquecidos.
A troca de interesses entre o público e privado saiu das conversas de pé de orelha para os principais veículos de comunicação. O Brasil descobriu com as delações de investigados o que havia por trás de doações eleitorais tidas como lícitas e desinteressadas.
Mas, sobra empresário pego com a boca na botija que alega que foi vítima do sistema.
Sinceramente, não compreendo como tem gente que confia cegamente em investimentos privados no público, sem contrapartida.
E digo isso meramente em tom de provocação à reflexão e não para lançar dúvidas sobre as parcerias já realizadas.
Só com o tempo saberemos se as contribuições de empresas não tiveram nenhuma contrapartida de forma direta ou indireta, explícita ou implícita.
Até saber, desconfie, monitore.