O título é um dos 7 mil comentários na corrente virtual que lancei em minha página no facebook e que atingiu mais de 128 mil compartilhamentos.
Foi uma convocação a protesto pela morte do menino de 13 anos, João Vitor, após agressão numa lanchonete Habibi’s, na Zona Norte de São Paulo.
Nas imagens captadas pelo circuito de câmeras, o menino aparece sendo arrastado por dois homens, com a bermuda abaixada e jogado na calçada.
A polícia investiga se a agressão causou a morte de João e a unidade franqueada emitiu uma nota em que se compromete a cooperar para esclarecer os fatos.
Até que esclareçam, perguntei:
“Cadê a corrente virtual Somos Todos João?”.
Provoquei sem expectativa de que a mobilização se tornasse viral, contei com umas 30 ou 40 curtidas dos amigos de sempre.
Milhares declararam com o compartilhamento que são, sim, o Brasil João.
E não importa saber a causa da morte pra dizer que o que vimos está errado.
Absolutamente nada autoriza a ação dos brutamontes para impedir que o menino pedisse dinheiro na porta da lanchonete.
O apelo por tantos compartilhado me provocou três sentimentos: alegria por encontrar milhares de pessoas com um olhar humano, frustração por constatar que ainda existe tanta gente equivocada sobre o papel do estado na proteção das crianças e tristeza com os que festejaram a morte de João.
Entre os bárbaros que comentaram o senso comum era de que todos os meninos que vivem ou pedem dinheiro nas ruas se tornam bandidos e os pais são os culpados. “Onde estavam os pais dele que permitiram que mendigasse nas ruas?”, repetiram.
“Nem quero pensar no esse vermezinho se transformaria quando crescesse”, escreveu Leandro Candido Gomes.
“Sinto muito, mas na minha opinião, foi tarde”, resumiu Priscila Bernardi.
Não sei o que me preocupa mais: se as crianças que nascem condenadas à invisibilidade pelo estado e à mercê da mendicância e marginalidade ou os adultos por ignorância e indiferença irrecuperáveis.
Sabe o que realmente acho?
Que essas pessoas que sentenciam: “culpados são os pais”, podiam explicar como filhos com estrutura familiar, com todas as condições pra se desenvolver e se sustentar, se perdem na vida.
Quem sabe assim eu entendesse como quem não tendo nada disso, pode escapar à vulnerabilidade.
E acho mais.
Acho que quem analisa o contexto antropológico e sociológico de forma tão rasa, não tem noção alguma da realidade brasileira. Pergunto: onde estavam os pais dos que propagam a ‘faxina social” que não os educaram para enxergar o abismo que separa crianças ricas e pobres, suas causas e consequências? Por que permitiram que se tornassem adultos tão desinformados, preconceituosos e arrogantes?
O futuro está na educação, repetem da boca pra fora.
O governo Temer congelou, impôs um teto aos gastos com educação por 20 anos. Os investimentos vão acompanhar a inflação do ano anterior.
Por que se calaram? Permitiram menos pra quem mais precisa?
A turba de ignorantes que se calou pra PEC do Teto dos Gastos, agora aparece pra dizer que a morte de menores em vulnerabilidade quanto mais precoce, melhor.
A nota do Habib´s é fria, cumpre um dever com os clientes, não com a sociedade.
Leia abaixo a íntegra da nota do Habib’s sobre o caso da morte do adolescente:
“A Rede informa que continua apurando os fatos da lamentável ocorrência em uma de suas unidades franqueadas.
A franqueadora leva em consideração as informações relatadas pelos funcionários da unidade franqueada, presentes no momento da ocorrência, bem como os relatos registrados em B.O.
A polícia foi acionada, assim que verificaram que a conduta do menor estava incontrolável, ameaçando o patrimônio físico da loja e dos clientes.
Diante do estado do jovem, imediatamente, também o resgate foi acionado. E todas as orientações, por ele passadas, foram seguidas para garantir o devido socorro ao jovem, que, infelizmente, veio a falecer a caminho do hospital.
A Rede esclarece, ainda, que vai cooperar com as investigações, se empenhando em esclarecer todos os detalhes do ocorrido com prioridade.”
A publicação que fiz no meu facebook é para que a barbárie não seja potencializada pelo silêncio dos bons e para que a versão da mídia comprometida com o aprofundamento do abismo social não prevaleça.
Porque João não é o primeiro e infelizmente, não será o último condenado à morte por discriminação.
Se um dia me posicionar a favor da barbárie, me matem.