DCM
Fernando Brito
Ricardo Noblat coloca em seu blog uma defesa tardia ante a condenação que sofreu por danos morais a Renan Calheiros.
Reinaldo Azevedo, em sua coluna na Folha, faz a constatação tardia de que os ladrões-delatores, “riem, vestidos de branco, livres, leves e soltos, como numa propaganda de absorvente higiênico” e, enquanto esperam o próximo governo, “saboreiam as batatas que Sérgio Moro lhes garantiu”.
Ainda que discorde da forma que Noblat escolheu para criticar Renan, chamando-o, num só artigo, com truques de estilo, de “mentiroso, patife, corrupto, pervertido, depravado, velhaco, pusilânime, covarde”, como regista a sentença da ministra Nancy Andrighi, do STJ, não posso deixar de registar que pagar R$ 142 mil a Renan Calheiros é pena exagerada, ainda mais que sem o obrigar a retirar do ar, como não o fez, a catarata de insultos.
Também discordo de 99,9% do que diz Reinaldo Azevedo, mas não posso deixar de reconhecer que ele está certo ao dizer que se deu o céu aos delatores e o inferno aos delatados, nas nuvens onde impera o armado arcanjo Sérgio Moro, a personificação punitiva de Deus.
Dito isso, o que merece análise no comportamento de ambos?
Noblat, desde o chamado “mensalão”, prestou-se ao papel de “pena da moralidade”, transformando o seu blog num dos recantos inaugurais do ódio, do xingamento, onde se juntavam as primeiras referências, em nome da honestidade, dos grupos (então protofascistas, agora já sem o “proto”) de direita que viriam a desaguar no bolsonarismo político.
Merece o reconhecimento do “mérito”, ao lado de alguns outros, ter transformado a violência verbal na única língua do debate político, como 60 anos antes fizera Carlos Lacerda.
Azevedo, autodefinido como pitbull, de igual forma pode ser apontado como um dos criadores do “anjo vingador” ao qual hoje, condena os arbítrios e autoritarismos que se acercam dos políticos de sua temerária predileção.
Quando era contra Lula, Dilma e o PT valia tudo, ou quase tudo, porque a partir de certo momento até ele percebeu que Moro “fazia apostas” ao divulgar áudios captados – uso a palavra dele – de forma irregular e ao dizer que a condução coercitiva de Lula tinha sido uma “trapalhada” que “preferiria que MP e Moro tivesse(m) avançado sobre Lula quando tivesse a pedra para esmagar a cabeça”.
Quando, no futuro, escrever-se a história deste tempo de brutalidade que tomou conta do Brasil, certamente Ricardo Noblat e Reinaldo Azevedo terão lugar nas notas de rodapé como exemplos da fúria palavrosa que marca esta era infeliz.
PS. Veja-se aí porque nós, blogueiros que não frequentamos o Piantella, não recebemos visitas presidenciais e não temos as boas amizades com que ambos posam para fotos e desfilam temos de cuidar das palavras. Só não precisam aqueles que se dedicam a xingar Lula, que não consegue nos tribunais sequer que se reconheça que dois mais dois são quatro. Não haverá, se escorregarmos nas palavras, afirmações do direito de crítica e serão condenações que, com a nossa pobreza atacada de desonesta (mesmo para os que jamais recebemos um tostão em publicidade do governo federal petista), nos serão quase uma sentença de morte.