Imagine o fim da garantia constitucional do sigilo da fonte que protege o trabalho da imprensa.
Quem em sã consciência iria denunciar um ilícito sabendo que poderia passar o resto da vida enrolado com explicações à justiça?
Que poderia até ser punido por isso, porque não agiu pela via adequada, porque prevaricou no exercício de uma função, porque se baseou em convicções sem provas?
Seria o aniquilamento do próprio direito à informação que permite à sociedade saber como atuam os poderes e como se desenvolve a relação entre o público e o privado.
Pela importância da informação que chega por meio de uma denúncia que não pode ter sua fonte revelada, o jornalista assume riscos e muitos foram executados pra não abrirem a boca.
O jornalista que revela sua fonte por dinheiro, medo ou pressão política perde completamente a credibilidade, não serve à função social que desempenha a imprensa.
O juiz Sérgio Moro já cometeu muitos abusos, carrega no currículo mais de 20 representações protocoladas no Conselho Nacional de Justiça, um pedido de desculpas ao Supremo Tribunal Federal por exorbitar de suas funções e também denúncia na Organização das Nações Unidas (ONU) pela condução coercitiva de Lula e pelo levantamento do sigilo dos grampos envolvendo ele e a ex-presidente Dilma Rousseff. Isso em apenas três anos.
Mas, nada foi tão grave quanto determinar que o jornalista Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, fosse depor coercitivamente para revelar a fonte de uma notícia.
Pior ainda, porque Moro é parte num processo que move contra o jornalista, o que impõe flagrante impedimento à ordem descabida por falta de bom senso e fundamentação jurídica.
O que Moro queria era intimidar o jornalista e prevendo que seria cobrado pelo abuso, divulgou um vídeo na página do facebook da esposa agradecendo apoio popular, dois dias antes.
Agiu premeditadamente para manipular a opinião popular quando fosse novamente cobrado.
Para Moro, Edu não é jornalista, mas um blogueiro que se dedica a propaganda partidária, como se tivesse poder pra enquadrar a função do jornalismo.
Para a sociedade fica cada vez mais claro que Moro, apesar de ser, não age como um juiz.
E ele sabe disso, tanto que pede apoio popular sempre que planeja uma nova investida contra o Estado Democrático de Direito.
Moro não se sustenta nos holofotes se a sociedade compreender que ele não age como um juiz, mas como um militante partidário.