A direita começa a ver a fria em que se meteu?

A direita começa a ver a fria em que se meteu?

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No Tijolaço
Por Fernando Brito

Ontem, Fernando Henrique Cardoso, falando no evento português do Instituto “Gilmar Mendes”, disse que só a legitimidade do voto dá “condições para o poder ser exercido com a estabilidade necessária para cuidar das coisas que contam para o povo”.

Sinal tanto para Michel Temer – o homem que acha que ser impopular é virtude reformadora – quanto para a conspiração judicial que tem seu centro na Procuradoria Geral da República e em altas sombras do Judiciário .

Aqui mesmo, porém, do outro lado do Atlântico, surgiu mais que um sinal, quase uma explicitude, que pode revelar outro movimento de parte da elite que percebe os perigos que a “galinha dos ovos de ouro” Brasil pode estar correndo.

Registrado pelo El País, as falas de despedidas do empresário Roberto Setúbal, que deixa a posição de presidente do Banco Itaú acertou na testa a movimentação de João Dória Júnior para ser a estrela da corte tucana.

Cito-as no contexto, muito bem narrado pelo jornal espanhol, no qual apenas “rearrumo” os momentos:

O presidente do Itaú, Roberto Setúbal, decidiu dar um pitaco sobre a política brasileira nesta terça, que reverbera na corrida eleitoral para 2018. No palco de um evento promovido pelo banco em um hotel em São Paulo, foi questionado pelo economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita, sobre a onda dos empresários na política. Setúbal respondeu que há espaço na política para aqueles que gostam do assunto como uma nova carreira.

(…) Parecia que se referia a Doria quando se referiu à “pessoa certa”. Mas na sequência, falou sobre a necessidade de “bons políticos” mais do que gestores privados.

“Mas no fim do dia, política é para políticos”, disse ele, que ainda completou. “Não dá para imaginar que um gestor competente vai solucionar os problemas do Brasil”, concluiu.

O executivo não nomeou diretamente o prefeito João Doria Jr., mas chamou a atenção por ter usado a expressão “gestor”, que é a marca de Doria desde a campanha. “Não sou político, sou gestor”, repetiu ele seguidamente, num bordão que ajudou a elegê-lo prefeito da capital paulista em primeiro turno. Setúbal afirmou que empresários podem ter um olhar diferente para a política. “Nesse sentido, melhora a gestão pública”. Mas deixou clara a falta de entusiasmo com essa saída.

Como não se conhece casos de megaempresários que tenha feito escaladas de dinheiro e poder falando algo gratuitamente, fica evidente o “contravapor” dado ao “Collor” paulistano.

Luís Nassif, numa análise com a dose de otimismo que sempre devemos nos injetar ao olhar a política – sem o que seria melhor ir para casa, cuidar apenas da vida pessoal – diz em sua ótima análise no GGN que as cúpulas das elites politico empresarias pode estar “se dando conta de que a destituição de uma presidente legitimamente eleita – mesmo com todos seus erros – e a tentativa de destruição de um partido político, desequilibraram todo o sistema político institucional do país, eliminaram os amortecedores para a Lava Jato, permitindo a maior destruição de riqueza da história. E abrem espaço para que um poder maior se apresente. Vestindo coturnos”.

Um país sem instituições políticas, ou ao menos com elas exibidas publicamente como se fosse o valhacouto apenas dos piores bandidos, está sujeito a toda sorte de aventureiros.

E aventureiro são, inevitavelmente, desgraças para nações.

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