No DCM
Por Kiko Nogueira
Moro encontrou uma maneira de lavar as mãos diante da enorme possibilidade de quebra-quebra em Curitiba no dia 10, quando Lula lhe prestará depoimento.
Gravou um vídeo, postado na conta do Facebook que sua mulher criou em sua homenagem, falando que queria transmitir um recado.
Começa com uma mentira relativa a seu uso e abuso das redes sociais — “não costumo fazer isso” — e termina com um boa noite.
“Eu tenho ouvido que muita gente que apoia a Operação Lava Jato pretende vir a Curitiba manifestar esse apoio, ou pessoas mesmo de Curitiba pretendem vir aqui manifestar esse apoio”, declara.
“Tudo que se quer evitar nessa data é alguma espécie de confusão e conflito e, acima de tudo, não quero que ninguém se machuque em eventual discussão ou conflito nessa data. Por isso a minha sugestão é não venham, não precisa, deixa a Justiça fazer seu trabalho, tudo vai ocorrer com normalidade e eu espero que todos compreendam”.
A única maneira de Moro ter evitado esse clima de conflagração era ter agido como um juiz imparcial ao longo do processo e não como um justiceiro.
Seus seguidores não são tipos pacíficos e em busca de Justiça. Em seu nome, fascistas invadiram a Câmara dos Deputados e a garagem de José Dirceu, onde teriam linchado o ex-ministro, a mulher e a filha se não houvesse proteção policial.
Curitiba está se preparando para uma batalha campal. Vizinhos à sede da Justiça Federal, no bairro do Ahú, estão em pânico. Parte do comércio deve fechar. Alguns falam em toque de recolher.
Os movimentos Vem Pra Rua e Lava Togas pagaram outdoors espalhados pela capital paranaense com provocações (um deles diz que a “República de Curitiba” espera Lula “de grades abertas”).
Moro nunca deu uma palavra sobre a violência de seus fãs, que nada mais é que uma extensão da que ele pratica no tribunal.
Não à toa a Veja e a Istoé trazem Lula e Moro como contendores num ringue, a primeira de luta livre e a segunda de boxe. Em circunstâncias normais, para uma ilustração idiota do gênero, Moro deveria aparecer como o árbitro e não como adversário.
Mas não estamos em circunstâncias normais.
O apelo de Sergio Moro para que sua torcida organizada se controle, agora, é um tarde demais. O gênio do fascismo saiu da garrafa e ele é diretamente responsável.
É uma esperteza. Se der problema, ele tentou avisar. Se não der, foi porque ele avisou.
Mesmo para um momento tão patético da vida nacional, é um papel pequeno demais para um magistrado. A venezuelização do Brasil está em pleno curso e tem a assinatura de Moro e da Globo.
Curitiba é só uma escala.