POR GLENN GREENWALD
QUANDO MICHEL TEMER foi alçado à Presidência da República há menos de um ano, depois do impeachment da Presidente eleita Dilma Rousseff, a principal justificativa dada pelas grandes figuras da mídia brasileira é que ele traria estabilidade e unidade ao país fragilizado pela crise.
Desde o início, o oposto aconteceu: Temer e seus aliados mais próximos abriram o caminho para muito mais corrupção, controvérsias, instabilidade e escândalos que antes de sua chegada ao poder. Sua taxa de aprovação despencou para níveis abaixo dos 10%.
Mas, ontem, o surgimento de provas que mostram o quão sujo e corrupto é Temer tornaram a situação insustentável. Vazamentos da investigação em curso revelaram que Temer foi grampeado em março dando anuência a um executivo para que continuasse a pagar propinas para comprar o silêncio de Eduardo Cunha, o onipotente ex-presidente da Câmara dos Deputados que presidiu o impeachment de Dilma, atualmente preso. Temer já havia enfrentado acusações de profundo envolvimento em propinas e pagamentos de caixa dois, mas as acusações foram abafadas porque – a diferença do que ocorre agora – não existiam provas.
Enquanto isso, o oponente de Dilma na eleições presidências de 2014, o Senador Aécio Neves, cujo partido liderou o processo de impeachment de Dilma e hoje domina o governo Temer, foi flagrado ontem em um esquema de propina, foi afastado do Senado pelo ministro do STF Edson Fachin, e agora está sob ameaça de prisão imediata. Sua irmã foi presa também no âmbito da investigação.
Em resumo, dois protagonistas do processo de impeachment de Dilma acabam de ser desmascarados com evidências documentais – gravações de áudio, vídeos e conversas online – a que todos os brasileiros terão acesso em breve. Precisamente o tipo de evidências comprometedoras que a grande mídia brasileira procurou com afinco durante anos para usar contra Dilma, acabam de ser encontradas, mas em prejuízo daqueles que lideraram sua saída, um dos quais herdando seu posto de Presidente.
Chamar a atual situação do governo Temer de insustentável é subestimar o que aconteceu. Como pode um país grande como o Brasil ser governado por alguém que conhecida e comprovadamente referendou o pagamento de subornos para manter uma testemunha chave calada? A única razão que sustentava a presidência de Temer – a de que ele traria estabilidade e sinalizaria aos mercados que o Brasil está novamente aberto aos negócios – acaba de entrar em colapso e só restam seus destroços.