Em paralelo à guerra entre a Globo, a FSP e o Estadão pela primazia de protagonismo na arena política, avançam as costuras no interior da classe dominante para definir as saídas para a crise.
JEFERSON MIOLA
No 247
Além dos movimentos dos atores partidários da oligarquia, as entidades empresariais passaram a defender publicamente suas perspectivas.
Nos jornais pode-se observar estes movimentos:
– num Comunicado à Nação, a CNI, sem mencionar o governo e o presidente moribundo, defende que “as reformas trabalhista, previdenciária, tributária e política são imprescindíveis e têm de continuar avançando”;
– em anúncio de página inteira, o SECOVI [Sindicato da Habitação de SP], também omite o descartável Temer e sustenta que “a agenda de reformas veio para ficar e deve ser obrigatoriamente implantada”;
– FHC sugere um entendimento com Lula e o PT para viabilizar “umasucessãocontrolada” [leia-se, indireta] do Temer, como pressuposto para a estabilização do clima político para o prosseguimento das reformas no Congresso;
– a colunista Lydia Medeiros, de O Globo informa que o “alto comando da coalizão partidária que sustenta o governo Temer busca, desde o fim de semana, uma solução para a crise que permita a renúncia do presidente e dê a ele garantias de que não irá para a prisão”. Segundo a jornalista, “Temer já teria concordado com a ideia, e opções como indulto ou pedido de asilo foram discutidas nas últimas horas. Entre os articuladores estão José Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Romero Jucá e Renan Calheiros”.
Os parâmetros da classe dominante para a solução da crise estão claros: eleição indireta do sucessor de Michel Temer no Congresso e a continuidade das reformas trabalhista e previdenciária e das agendas antipopulares e antinacionais – ou seja, a continuidade do golpe.
Esta solução requer, porém, o equacionamento de três variáveis: [1] proteger Temer da prisão depois da renúncia ou afastamento, [2] encontrar consenso acerca do nome a ser eleito indiretamente pelo Congresso para suceder Temer e presidir o país até 31/12/2018, e [3] inviabilizar a candidatura do Lula.
Caso não haja uma contundente capacidade de mobilização popular, nos moldes da campanha das Diretas Já de 1984, o desfecho da crise será o acordo por cima fechado pela classe dominante, mesmo que isso possa abrir um período de instabilidade política e de conflito social no país.