POR OTÁVIO ANTUNES, de Brasília.
Enquanto escrevo, no dia do maior ato organizado por movimentos sociais na esplanada dos ministérios, o que se vê nas proximidades do acesso ao congresso é o uso descontrolado do aparato policial.
Uma brutal repressão.
Desde a noite de ontem, milhares de pessoas se encontraram na capital do país para lutar contra o desmonte da previdência, das leis trabalhistas e pedir o afastamento imediato do presidente Michel Temer.
O dia começou com uma longa e pacífica caminhada em direção à Esplanada. Dentro do Congresso, a UNE e o Centro Acadêmico 11 de agosto entregaram um abaixo assinado ao presidente DA Câmara Rodrigo Maia com mais de 800 mil assinaturas, colhidas em menos de uma semana.
Por volta das 14h o clima começou a mudar.
Um confronto pequeno e pontual, entre manifestantes e policiais, transformou-se em um festival de tiros e bombas, borrachadas e intimidação.
Milhares de soldados da polícia militar e da força nacional de segurança, além de outros das próprias forças armadas, avançaram sobre os manifestantes, provocando pânico, correria, e deixando dezenas de feridos pelo caminho.
Apenas ao nosso lado um jovem teve o olho atingido e um morador de rua teve a barriga alvejada por um tiro a queima roupa de bala de borracha. Os PMs, novamente, não seguiram os próprios manuais da corporação e atiraram.
Joelmo Jesus de Oliveira, morador de Brasília, relatou, entre tantas outras agressões, uma praticada pelo Exército. “Eles estavam dentro do prédio, que tem vidros espelhados, saíram de repente e agrediram uma jovem com chutes na cara e murros”.
Um senhor que filmava o ato teve seu celular destruído, respirou uma enxurrada de gás de pimenta e ainda apanhou. “Se isso não é estado de exceção, não sei o que é. Nunca vi tamanha violência”, disse.
O que justifica tamanha repressão?
O movimento no Palácio do Planalto foi inexistente durante todo o dia, acompanhamos por mais de uma hora a entrada principal, e o que deveria ser um “entra e sai” era, na verdade, um verdadeiro deserto. Apenas um carro no estacionamento.
Temer está absolutamente isolado e sua base no Congresso desmoralizada para levar a cabo outras reformas.
A saída por renúncia foi descartada pelo presidente, o que faz com que lhe reste apenas a força repressora.
Resta aos movimentos resistir em Brasília e em todo Brasil. Serão dias duros e decisivos para barrar o desmonte e derrotar o governo Temer.
Michel Temer assinou um decreto que foi publicado em uma edição extra do “Diário Oficial da União” e prevê o emprego das Forças Armadas entre 24 e 31 de maio.