A propositura foi do vereador Aleks Palitot que se destaca com um gesto que simboliza voz no parlamento em defesa dos povos tradicionais.
Foram homenageados Almir Suruí (moção recebida por Rubens Naraikoe Surui), Val Karitiana, Adriano Karipuna, lideranças que representam as mais de 50 comunidades indígenas do Estado e também o Procurador da República, Reginaldo Trindade, que há mais de uma década atua em defesa dos Cinta Larga.
A sessão foi prestigiada por todos os vereadores em alusão ao Dia do Índio, comemorado dia 19 de abril, justamente para lembrar que todo dia é dia de índio.
Aleks Palitot lembrou dos índios dizimados durante a construção da lendária Estrada de Ferro Madeira Mamoré. “Os povos originários são nossa própria identidade. Quem almeja liberdade, protege sua identidade”.
Adriano Karipuna falou da resistência dos povos da floresta e fez um apelo: “Tirem esse olhar opressor sobre os povos indígenas. Somos vistos equivocadamente por pessoas que não conhecem a nossa realidade”.
E foi de abandono que Reginaldo Trindade falou em seu discurso.
Confira o discruso:
517 Anos
Por Reginaldo Trindade
Em mais de meio milênio de genocídio nesta continental terra, provavelmente, ao menos em épocas democráticas, jamais nossos parentes estiveram em situação tão desalentadora.
A Funai, desprestigiada e militarizada; um parlamento “agro-servo-pastoril”; um deputado, tachado, pela Austrália, como o político mais abominável do mundo, cuja plataforma de campanha presidencial em 2018 envolve inclusive acabar com todas as terras indígenas; são apenas alguns dos desafios e assombros que se agigantam no horizonte desses tempos de tamanha provação.
Em meio a tanta desesperança, de louvar, e muito, a atitude desta Casa de Leis em homenagear três lideranças indígenas. Considero-me apenas um homem entre gigantes. Que a força e a fé de Almir Suruí, Adriano Karipuna e Val Karitiana continue a nos inspirar para sempre…
O país encontra-se em situação amargamente limítrofe, não apenas para nossas sofridas comunidades tradicionais. Todos nós temos a obrigação de tentar salvar a pátria amada do lamaçal sem fim em que se afunda a cada dia por conta da desmesurada ganância humana. Como faremos isso? Educação, trabalho, honestidade, exemplo para nossos filhos; a receita comporta muitos ingredientes.
As épocas mais difíceis são as que mais exigem do homem de bem. Trabalhar com nossos irmãos indígenas ensinou que o verdadeiro guerreiro é o que jamais se deixa vergar. Quanto mais acuado for, mais inspiração terá!
Que seja assim, então! Que a dificuldade da batalha, por maior que seja, jamais nos permita esmorecer! Que todos se conscientizem que as ondas também são navegáveis; que nenhuma montanha é alta o suficiente e que, acima de tudo, as tempestades são sempre sucedidas de radiante sol! Que o homem jamais desista de se encantar com a força de um aplauso, nem com a beleza de um sorriso!
A nos orientar na caminhada, a convicção de que o ser humano pode sempre passar dos limites. Com honestidade de princípios, propósitos e, sobretudo, de condutas; roguemos ao Altíssimo que nossos discursos sempre guardem a mais estrita correspondência com nossas ações.
Não deve sequer passar pela cabeça do Professor Aleks Palitot a imensa honraria de seu pequeno, mas histórico gesto, alçando-nos ao mesmo panteão de lideranças indígenas tão reconhecidas em Rondônia, no país e mesmo internacionalmente. Histórico! Que adjetivo poderia ser mais simbólico para traduzir a incessante busca de Vossa Excelência por fazer o bem?
Seguiremos com o nosso hercúleo trabalho em defesa do Povo Cinta Larga, para o qual todos aqui podem ajudar, bastando que queiram. A consciência tranquila do dever cumprido será a maior, quem sabe a única, recompensa almejada.
Aprendemos com Aristóteles, que a grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las e, com o Grande Cícero, que a gratidão é o maior dos deveres. Ao tempo em que agradecemos, de coração, a todos, declaramos solenemente que continuaremos, até o fim de nossos dias, envidando os esforços possíveis para sempre continuarmos merecedores.
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