No 247, por Alex Solnik
A certa altura do primeiro dos três dias de julgamento da chapa Dilma-Temer, o presidente do TSE, Gilmar Mendes contou uma história ilustrativa.
Disse ter ouvido comentários de que, em encontros internacionais, magistrados de outros países mostram-se preocupados com o excesso de cassações no Brasil: “Vocês estão cassando mais que os militares na ditadura”, dizem eles.
Ao que o corregedor e relator da matéria, Herman Benjamin retrucou, sem perder a elegância:
– A diferença é que a ditadura cassava quem era a favor da democracia e nós cassamos quem é contra. São coisas diferentes.
– De qualquer modo – continuou Gilmar, sem dar o braço a torcer – é preciso tomar muito cuidado, ainda mais quando tratamos pela primeira vez de uma cassação de presidente da República.
Herman concordou. A última coisa que ele queria era criar algum atrito com Gilmar. O jogo já estava claro: Herman vai votar pela cassação da chapa, e Gilmar, contra.
Benjamin sabe que Mendes é seu opositor e sabe que tem muito poder. Tratou-o com toda a deferência possível, num esforço quase desumano para amansar a fera. Citou-o várias vezes no relatório e prometeu fazer novas citações durante o desenrolar do julgamento.
Gilmar não perdeu oportunidade para sapatear em cima de Benjamin. No final da sessão, sugeriu que a próxima, no dia seguinte, começasse às 8 e meia da manhã e não às 9 como estava programado.
Benjamin tossiu. Tinha usado o lenço para assoar o nariz algumas vezes enquanto lia seu relatório.
– Não precisa tossir por causa disso, brincou Gilmar.
– Se for possível peço para manter o horário original – pediu Benjamin.
– Então está bem – concordou o amigo de Temer – voltaremos amanhã às 9, em homenagem à gripe do ministro Herman Benjamin.