Completou 22 dias que Rede e PSOL protocolaram requerimentos no Conselho de Ética do Senado para cassar os mandatos dos senador Aécio Neves e Zezé Perella.
Bem diferente do que ocorreu com Delcídio Amaral, que teve o seu requerimento de cassação aprovado em regime de urgência, não há clima de pressão no Senado para julgar os tucanos parceiros na cleptocracia que foram flagrados em áudios criminosos captados em operação da Polícia Federal.
E quem diz isso é o presidente do Conselho de Ética do Senado, João Alberto Souza (PMDB-MA).
“O que eu sinto é que o Senado não concorda com o afastamento do senador. Isso eu tenho visto muito. Eles questionam por que afastar? Por qual argumento?”, afirmou Souza.
A desfaçatez é flagrante e fortalece o estigma de que o Senado tem tradição de passar a mão na cabeça de envolvidos em escândalos até que haja pressão externa.
Em entrevista ao Estadão, Souza lembrou que “Mesmo quando o (ex-senador) Anon de Mello (pai do senador Fernando Collor) matou um outro senador no plenário, ele não foi cassado (o fato ocorreu em 1963). O primeiro senador a ser cassado foi o Luiz Estevão, em 1999. Na época disseram que aquela decisão iria “abrir a porteira”.
O tiro acertou não o desafeto de Anon, o petebista Silvestre Péricles, mas outro senador que acabou morto, o José Kairala (PSD-AC).
Os senadores que protagonizaram o duelo a tiros foram presos, mas meses depois, apesar das todas as testemunhas e registros na imprensa, foram absolvidos pelo Tribunal do Júri de Brasília.
Bom, depois disso o que vimos foram vários pedidos de renúncia de senadores para evitar o processo de cassação.
Hoje a procrastinação do Senado com denúncias gravíssimas como as que recaem sobre Aécio, que também falou em escolher um ‘mula’ de propina que pudesse matar antes de delatar, ocorrem muito por falta de pressão externa. Ele e o amigo de política e negócios, o Perella do caso helicoca, contam com o silêncio ensurdecedor da sociedade.
Nem dentro, nem fora do Senado, há pressão para que Aécio e Perella sejam cassados.
Até quando esta pátria será mãe gentil com os filhos que ‘não deram certo’, ninguém sabe.