No DCM, Por Kiko Nogueira
Em 2014, Gilmar Mendes deu uma entrevista à Folha que ajudou a consolidar um discurso antipetista obtuso: corríamos o risco de transformar o STF numa corte bolivariana.
Essa falácia — o PT se notabilizou pelas piores indicações possíveis para o Supremo e ainda tinha gente como José Eduardo Martins Cardozo — vinha junto com a conversa de que nos tornaríamos a Venezuela.
Passados três anos, sete meses e um golpe abjeto, verifica-se que Gilmar foi premonitório: Michel Temer montou um Judiciário bolivariano e a divisão venezuelana da nossa sociedade é uma realidade inescapável.
A farsa dos quatro dias de julgamento da cassação de Temer, em que o mundo inteiro antecipou o que os juízes escolheriam, mostra como os tribunais superiores estão a reboque de Michel.
A política intervencionista lhe outorgou os votos dos ministros que ele indicou no TSE, mais o do cada dia mais óbvio Gilmar, que fechou a noite em grande estilo.
Naquela ocasião, à Folha, GM criticou o ambiente de “certa acomodação do TSE”. “Está tudo já determinado — devemos fazer isso mesmo que o establishment quer”, ironizou.
O TSE estava tendendo a apoiar coisas do governo?, quis saber o entrevistador.
“Fundamentalmente chegava a isso. Cheguei a apontar problemas nesse sentido”, respondeu o homem.
Temia que o STF perdesse “o papel contramajoritário, que venha para cumprir e chancelar o que o governo quer”.
No Supremo, Alexandre de Moraes, ex-ministro da Justiça, indicação de Temer, continuará o serviço de blindar o chefe. Quem articulou a operação? Ele mesmo, Gilmar Mendes.
À vontade com o aparelhamento, Michel mandou de volta as 82 perguntas que a PF lhe enviou, com um desafio: “O questionário é um acinte à sua dignidade pessoal e ao cargo que ocupa”.
O bolivarianismo temerista está só começando. Deus nos ajude.