No DCM, por Kiko Nogueira
O TSE conseguiu o impossível: unir um país que parecia irremediavelmente dividido.
O sentimento de derrota e abjeção diante daquele espetáculo uniu gregos e baianos.
Após três dias, o relator Herman Benjamin indicou que pedirá a cassação de Temer, mas a maioria dos ministros já deu todos os sinais de que vai absolver Michel.
Os depoimentos dos delatores da Odebrecht não foram considerados, posição defendida por Gilmar Mendes e pelos colegas Napoleão Nunes Maia, Admar Gonzaga e Tarcísio Vieira.
Benjamin bem que tentou.
Passou o tempo rebatendo ataques, alguns deles coquetéis molotov de nonsense. Durante seu voto interminável, dava sinais evidentes de cansaço e de derrota iminente.
Seria inimaginável ministros retirando dos autos supostos crimes de caixa 2 caso Dilma ainda estivesse no poder.
Temer ganhou o salvo conduto para seu estilo “rouba, mas reforma”.
Transmitido ao vivo, o negócio serviu para mostrar, novamente, que temos um Judiciário à altura do resto dos poderes.
Os grandes momentos foram, em desordem de importância: a discussão em torno da presença dos juízes no lançamento do livro de Luiz Fux; Gilmar mandando a modéstia às favas e dizendo que Benjamin só brilhava na TV graças a ele; Admar Gonzaga falando que não confere seu extrato bancário; Napoleão Nunes preocupado com seu “burgo” no Ceará, que estava com medo, e Fux fazendo uma digressão sobre o “medo do medo” e a fobia.
O quadro que se tem é desalentador, mas é o que o Brasil do golpe merece.
A ação original, como o próprio Aécio admitiu num dos grampos da JBS, era “só para encher o saco do PT”.
Enquanto teve essa função, Gilmar bancou. Eliminada Dilma, não serve para mais nada.
O Tribunal Superior Eleitoral, a reboque de Michel Temer, é unanimidade nacional — à esquerda, à direita, ao centro, al dentro, acima e abajo.
A única saída, para quem acredita nisso, continua sendo o povo nas ruas. No dia 30, há uma greve geral. O movimento das diretas, francamente, não decolou.
O novo slogan do Washington Post é “a democracia morre no escuro”, frase bastante usada pelo jornalista Bob Woodward, do caso Watergate.
Por aqui, a democracia morre à luz do dia, como num show ruim em que todo o mundo se choca, inimigos dão-se as mãos — e esperam bovinamente pela próxima palhaçada que os diretores vão preparar