Jornal GGN – O Conselho de Ética do Senado arquivou o pedido de cassação do senador Aécio Neves (PSDB-MG), por uma grande maioria de 16 senadores. Assim, a Casa Legislativa sequer investigará se o tucano recebeu por meio de seu primo R$ 2 milhões do dono da JBS, Joesley Batista. Se o parlamentar conseguiu a blindagem no Congresso, no Judiciário o contexto é um pouco diferente: ele é alvo de 8 inquéritos e uma denúncia.
Foram 16 votos contra 4 que salvaram temporariamente o senador Aécio e um afastamento de suas atividades legislativas por quebra de decoro parlamentar. Segundo o senador Lasier Martins (PSD-RS), se Aécio queria provar que era inocente, agora não tem mais a opção e perdurará “a dúvida”.
“Não estivemos agora julgando a cassação, e sim a admissibilidade ou não da representação. Sempre defendi que o processo seria saudável para Aécio provar que é inocente. Da maneira que ficou, perdura a dúvida”, disse o parlamentar.
Já para o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor do pedido de investigação para cassar o mandato do tucano no Senado, existe hoje um acordão entre os grandes partidos da base aliada para salvar Aécio e outros parlamentares investigados. “Há dois tipos de julgamento, um dos que têm poder político no Senado e outro dos que não têm”, analisou.
E é neste segundo tipo de julgamento que Aécio Neves sofre ameaças. São um total de 8 inquéritos que o colocam desde lavador de dinheiro, prática de caixa dois, recebimento de propinas, entre outros. O processo mais avançado, a denúncia, virou peça da Procuradoria-Geral da República que sustenta que o parlamentar é corrupto passivo e obstruiu a Justiça no caso envolvendo a JBS.
Somente de obstruir o andamento de investigações, Aécio Neves tem a denúncia com base na delação de executivos da JBS e em provas de ações controladas pela própria Polícia Federal, gravando o dinheiro sendo entregue ao primo do tucano, e ainda um outro pedido de inquérito.
Os R$ 2 milhões seriam apenas uma das pontas das acusações. Aécio teria formado um caixa de R$ 60 milhões, que seriam destinados ao tucano nas eleições de 2014 pela JBS, em forma de doações não declaradas, ou seja, ilegais. As informações são do próprio dono da JBS, Joesley Batista e do executivo Ricardo Saud.
Desse montante, R$ 40 milhões serviriam para a compra de apoio de partidos, com outras candidaturas, para apoiarem o então presidenciável posteriormente derrotado Aécio Neves. Relata a denúncia da PGR o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), que em sua última decisão deixou o parlamentar voltar a trabalhar no Senado e chegou a elogiar a carreira do tucano.
Também incluem entre o rol de acusadores do parlamentar diversos delatores, como o lobista Fernando Moura, e executivos da Odebrecht, que recuperaram o esquema de corrupção de Furnas, envolvendo o então diretor da estatal de energia Dimas Toledo, apontado como uma das principais pontes de políticos tucanos a propinas.
A própria empreiteira Odebrecht anunciou que foram repassados R$ 50 milhões, incluindo doações oficiais e caixa dois, ao grupo político de Aécio, com Antonio Anastasia e outros políticos.
São duas as ações contra Aécio no STF no caso de Furnas: uma sob a relatoria de Ricardo Lewandowski e outra nas mãos do ministro Gilmar Mendes. Coincidentemente, o ministro do Supremo também adquiriu recentemente a relatoria de outro inquérito do tucano, sobre pagamentos de R$5,4 milhões de vantagens indevidas a campanha de Anastasia ao governo mineiro em 2010.
O terceiro inquérito do senador que corre com o comando de Gilmar é envolvendo o esquema do chamado mensalão mineiro, e a maquiagem de dados do Banco Rural durante a CPMI dos Correios. Aécio seria um dos principais políticos a abafar os crimes contra a administração pública e lavagem de dinheiro envolvendo Minas Gerais.