The Intercept, por George Marques
QUANDO O PRESIDENTE MICHEL Temer comemorou um ano de gestão, no último 13 de maio, um grupo de políticos, entre eles deputados e ministros, festejou com ele em um refinado restaurante italiano de Brasília, o Trattoria do Rosário.
Na ocasião, a voz rouca do cantor e deputado Sérgio Reis (PRB/SP) entoou o clássico sertanejo “O menino da porteira” para aplausos do presidente. Na Câmara, o deputado também anda tendo motivos para comemorar: ele foi o que mais teve emendas pagas este ano pelo governo. Foram R$ 8,4 milhões no total, segundo levantamento feito por The Intercept Brasil com base nos dados do site Siga Brasil.
Um ranking feito por TIB mostra que os dez deputados com mais emendas pagas em 2017 receberam um total de R$ 72,5 milhões. A maioria deles é intimamente alinhado às pautas do governo e defende categoricamente Temer pelos corredores do Congresso Nacional. Ainda de acordo com o levantamento, só em 2017 já foram liberados cerca de R$ 1,5 bilhão de reais a 737 deputados com e sem mandato.
Na liderança da lista, Sérgio Reis teve um total de sete emendas pagas pelo governo neste ano. Em fevereiro, houve um pagamento de R$ 252.607,99 destinado a apoio e manutenção de unidades de saúde para o estado de São Paulo. Para o mesmo fim, outras quatro emendas totalizando R$ 2.965.541,91 foram liberadas em março. Em junho, o valor das emendas do deputado cresce, e o governo paga mais duas que, somadas, chegam a R$ 5.188.383,49 também para a área da saúde. Ao todo, nos seis primeiros meses deste ano, o total foi de exatos R$ 8.406.533,39 executados.
O governo vem sofrendo duras críticas pela liberação desenfreada de grandes recursos no mês mais grave da crise política, quando o Planalto se via ameaçado: ou atendia aos interesses dos deputados ou poderia não conseguir maioria para rejeitar a denúncia de corrupção contra o presidente, com votação prevista para a próxima semana, em 2 de agosto.
As emendas parlamentares individuais são dotações inseridas no Orçamento da União que abastecem os redutos eleitorais dos parlamentares com recursos para obras públicas. Em ano pré-eleitoral, são essenciais para que os políticos beneficiem suas bases nos estados. TIB mostrou recentemente que até o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso no complexo de Pinhais, em Curitiba, também foi agraciado com a liberação de recursos de mais de R$ 1,6 milhão.
Para quem a banda toca, afinal?
Apesar de todo o agrado por parte do governo e mesmo já tendo elogiado Temer num passado recente, o cantor tem se aproximado muito nos últimos tempos do aspirante ao Planalto Álvaro Dias (PV-PR), árduo crítico da atual gestão, que chegou a pedir a renúncia do presidente após a divulgação das gravações comprometedoras feitas pelo dono da JBS, Joesley Batista. Sérgio Reis figura como “indeciso” no site 342agora, criado para acompanhar o posicionamento dos congressistas sobre a continuidade da denúncia criminal contra Temer.
A reportagem entrou em contato com o deputado Sérgio Reis para entender a aplicação dos recursos, mas o deputado ainda não se manifestou.
O cargo que Bessa ocupou na CCJ era anteriormente de Jorginho Melo (PR/SC), retirado pelo partido por ter uma posição favorável à continuidade da denúncia. Manobras, promessa de cargos e liberação de emendas a aliados ajudaram o governo a garantir uma vitória montada na artificialidade parlamentar.
Bessa entrou na comissão sem nem sequer saber o nome dos colegas: se enrolou para citar o sobrenome do relator, Sérgio Zveiter, chamando-o de “Velter”, e do deputado Wadih Damous (PT/RJ) de “Uadi Vadus”. “Não é muito estranho uma denúncia nessa hora em que o Brasil começa a ver uma luz no fim do túnel?”, questionou, mostrando por que foi escalado para a CCJ.