Mais um Agosto com registro histórico trágico para o Brasil. À coleção de desgostos que tem o suicídio de Getúlio Vargas, a renúncia de Jânio Quadros, a morte de Juscelino Kubitscheck e o afastamento definitivo da presidente Dilma Rousseff no Senado, acrescentou-se a votação que impediu o afastamento do primeiro presidente acusado por corrupção.
263 deputados aprovaram o relatório que recomendou a rejeição da denúncia oferecida pela Procuradoria Geral da República.
Foram liberadas em três semanas de julho o equivalente a três meses de emendas parlamentares, para convencer deputados a adiar o julgamento de Michel Temer no Supremo Tribunal Federal.
É fácil compreender por que emendas, promessas de cargos e generosidade fiscal a devedores contumazes prevaleceram à delações, gravações de áudio e vídeo contra Temer.
A ganância venceu o bom senso e ao menos por enquanto, o que está definido é que o presidente empossado com um golpe só responderá no STF após o término do mandato, em 31 de dezembro de 2018.
Mas, o resultado não tira o tubo de oxigênio do golpista. Com 227 votos contrários à barrar a denúncia, Temer terá muita dificuldade de passar as reformas nefastas feitas nas coxas da elite para tirar de quem tem menos e dar a quem tem mais.
Foi tão flagrantemente vergonhoso que os cúmplices de Temer não dedicaram votos às famílias, como na sessão que autorizou a abertura do processo de impeachment da presidente eleita, Dilma Rousseff.
Tivesse uma sociedade indignada com a corrupção, hoje o país não amanheceria com tanta vergonha e remorso.
Há muitas consciências pesadas nesse momento ao menos por incerteza com o futuro.
O senso comum após a sessão que barrou o despejo de Temer é de que vai demorar e doer mais a permanência dele com a unidade demonstrada pela oposição e na iminência de nova denúncia da PGR.
A história não segue em linha reta, mas em curvas com aclives e declives que levam a sociedade brasileira a aprender e desaprender que expressar descontentamento é a melhor forma de controle de decisões políticas.
Não está adiantando canalizar raiva à políticos patifes, muito menos a Temer pra quem a vergonha saiu e não voltou.
É o povo que deve ser cobrado a ir às ruas.
São modos característicos de reação ao que é certo e errado na política que fazem uma nação evoluir.
Em muito pouco tempo, o povo brasileiro foi aos extremos pra fingir que entendia bem de conceitos éticos e morais no clássico duelo de classes que se deu em gigantescas manifestações de rua.
Mais rapidamente a classe política detectou a fragilidade de caráter do povo e readequou o plano diabólico de mantê-lo desunido sob jugo.
Na sessão que condenou o país à permanência de Temer, deputados de oposição denunciaram o achincalhe dos aliados que se gabavam como “profissionais” que derrotaram “amadores”.
Registre a presença, todo brasileiro que se omitiu. Quem desde o início do golpe luta, não tem culpa.