Richard Spencer, pai do conceito de ‘alt-right’, organizou ato que terminou em uma morte no sábado
No El País
O ataque de um simpatizante neonazista que deixou uma pessoa morta no último sábado, em Charlottesville (Virginia), não foi suficiente para calar a extrema direita norte-americana. “Claro que voltaremos a Charlottesville”, frisa Richard Spencer, um supremacista branco organizador, entre outros, do protesto contra a retirada de um monumento da guerra civil que terminou em embates no fim de semana.
“Não podemos permitir que funcionários corruptos suprimam a liberdade de expressão”, afirmou em uma entrevista Spencer, de 39 anos, pai do conceito de alt-right, a chamada direita alternativa que está no auge nos EUA e que defende a herança branca europeia.
No sábado, dia 12, a polícia retirou Spencer e seus seguidores após declarar ilegal a concentração diante da estátua de Robert E. Lee, general da velha Confederação escravista. Com a incapacidade da polícia de contê-los, manifestantes da direita racista e grupos afro-americanos e antifascistas que protestavam contra a manifestação se engalfinharam. Em meio a esses distúrbios, um motorista simpatizante do neonazismo atropelou um grupo de esquerda, matando uma mulher e ferindo cerca de 19 pessoas.
O radical culpa as autoridades pela violência e questiona o fato de Alex Fields, o homem de 20 anos que atropelou os manifestantes antifascistas, ter feito isso de propósito, argumentação sustentada pela polícia. “Quem tem sangue nas mãos são o governador e o prefeito, que instigaram e exacerbaram a situação. Permitiram que o caos reinasse”, diz. Foi a presença dos supremacistas que disparou a tensão nessa progressista e normalmente tranquila cidade universitária.
No protesto de diversos grupos racistas, incluindo neonazistas e a Ku Klux Klan, pessoas estavam vestidas como militares e com rifles – algo permitido pela lei de posse de armas da Virginia –, e outras com escudos e porretes. Tudo o que Spencer admite é que seu grupo possuía algum “mal-intencionado”, mas culpa os antifascistas de causarem a violência e defende o direito à defesa.
O supremacista já participou em maio em Charlottesville de um desfile com tochas de fogo, que evoca os tempos de maior atividade da Ku Klux Klan, para protestar contra a decisão da Prefeitura de retirar a estátua de Lee por considerá-la um símbolo de divisão. A justiça paralisou temporariamente essa decisão.
Mark, um negro de 28 anos que protestava contra a extrema direita, viu de perto o atropelamento do sábado. “Foi uma coisa horrível”, descreve, ainda surpreso. Defende a retirada da estátua de Lee porque está causando violência, mas acredita que os distúrbios “segregarão racialmente” ainda mais a população.
Outros também atribuem o caos às forças da ordem. “Temos que nos proteger entre nós. A polícia não o faz, permite que os supremacistas venham à cidade”, denuncia Jacobie Mupin, de 19 anos e integrante da organização Black Lives Matter (Vidas Negras Importam).
Sua mãe, Candice, de 38 anos e que carrega um bastão de beisebol, culpa o presidente Donald Trump pela violência. “Ele é a razão disso, é seu líder, a razão pela qual se sentem tão empoderados”, diz sobre os racistas. “As pessoas agora têm muito mais coragem em manifestarem seu ódio, seu desdém em relação aos negros e morenos”.