Os muros da (des)ordem mundial

Os muros da (des)ordem mundial

peru

No Tijolaço, por Fernando Brito – Fabiano Maisonnave e Avener Prado, hoje, na Folha, mostram algo que, com ou sem concreto e arames farpados, virou a nova ordem mundial.

Descrevem os dez quilômetros de muros, que começaram a ser construídos nos anos 80, com a função de “separar as áreas urbanizadas dos “povoados jovens”, o eufemismo local para designar favelas”, em Lima, capital peruana.

A matéria, muito boa, pode ser lida aqui. Traz muito de tudo o que vemos aqui e quase já não prestamos atenção, de tão condicionados a aceitar a “segurança” como única saída para o caminho bruto e violento que a todos vai sendo imposto.

O “muro do Trump”, afinal, nem tão novidade é. Está na Cisjordânia, “protegendo” Israel, está na Sérvia, contendo os imigrantes do Oriente e da África em caos, está por aqui, separando favelas de condomínios.

Mas o muro mais cruel, a pior parede que se põe entre semelhantes é o muro mental que se deixou construir. Que deixamos, nós também, se construir, frise-se.

A ordem injusta, excludente, cruel produz multidões de seres humanos vivendo na pobreza, em condições em que falar de “direitos” parece um deboche.

Uma ordem assim se sustenta, se legitima, jamais pode tolerar o progresso coletivo. Ao contrário, a crise, cíclica, é necessária à sua sobrevivência.

Ela precisa daquilo que ela própria produz: o medo.

Medo que conduz ao ódio.

Ódio ao favelado, ódio ao pobre, ódio ao negro, ao mestiço, ao índio (como lá em Lima, onde os pobres vêm do altiplano e boa parte dos limenhos descende dos europeus), a qualquer um que não seja “civilizado” ao ponto de poder pertencer ao mundo “normal” onde estamos ou, ao menos, pareça ser suspeito disso.

Bandido bom não é bandido morto: é bandido vivo, ameaçador, que justifique ser bruto, estar armado, haver polícia em quantidades cavalares e métodos idem. Embora faltem recursos para educar, curar, cuidar, estes não podem faltar para patrulhar, prender, atirar.

Não se trata, óbvio, de deixar de cuidar da segurança pública. Trata-se de entender que a “guerra” é um exercício de dominação e submissão.

E uma das dominações e das submissões é a das nossas mentes, levadas a crer que isso é um caminho, quando é um muro.

Que faz prisioneiros dos dois lados.

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