Para “comemorar aniversário”, PCC planeja matar juiz, procurador, delegado e agentes

Para “comemorar aniversário”, PCC planeja matar juiz, procurador, delegado e agentes

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No UOL – O PCC (Primeiro Comando da Capital) planeja matar um juiz federal, um procurador da República, um delegado federal e pelo menos quatro agentes penitenciários de Porto Velho (RO) até o dia 31 de agosto, data em que a facção criminosa faz aniversário de 24 anos.

A maior facção criminosa do país já matou três agentes penitenciários federais, entre setembro de 2016 e maio deste ano, de acordo com investigações da PF (Polícia Federal). Para executar os atentados, o PCC criou células de inteligência que, entre outras ações, monitoram a rotina dos agentes públicos escolhidos como alvos.

A informação sobre a possibilidade de novos assassinatos consta em ofício assinado pelo diretor do presídio federal de Porto Velho, Cristiano Tavares Torquato, a cujo conteúdo o UOL teve acesso com exclusividade. O documento foi encaminhado no último dia 17 de agosto ao superintendente regional da Polícia Federal de Rondônia, Araquém Alencar Tavares de Lima. A reportagem confirmou a veracidade do documento com três fontes do governo federal.

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“De acordo com informações prestadas por fonte humana, estaria em andamento um ‘salve’ (ordem) do primeiro comando da capital (PCC) para execução de Agentes Públicos em Porto Velho/RO, dos quais seriam potenciais alvos o Juiz Corregedor da Penitenciária Federal em Porto Velho, um Procurador da República, um Delegado da Polícia Federal (todas as autoridades envolvidas na Operação Epístola) e pelo menos quatro Agentes Federais de Execução Penal, lotados em Porto Velho”, lê-se no ofício (veja a reprodução do documento acima).

Ainda de acordo com as informações colhidas, os atentados deveriam acontecer até o dia 31 agosto, data de fundação da maior facção criminosa do país, de acordo com a PF (Polícia Federal).

A facção criminosa foi criada por oito presos, em 31 de agosto de 1993, no Anexo da Casa de Custódia de Taubaté (130 km de São Paulo), o Piranhão, tida naquela época como a prisão mais segura do Estado.

“Os motivos da ordem seriam a suspensão de visita íntima e a permanência dos presos do PCC por período muito longo na Penitenciária Federal, referindo-se as (sic) prorrogações de permanência no Sistema Penitenciário Federal (SPF)”, finaliza o diretor do presídio federal no documento.

O Depen (Departamento Penitenciário Nacional), órgão do Ministério da Justiça e Segurança Pública, informou que medidas foram tomadas para proteger a vida dos agentes. A respeito da última ordem do PCC, “as forças de Segurança Pública em âmbito federal e estadual foram informadas a respeito do caso” (leia a resposta abaixo).

Agentes receberam alerta

Os agentes penitenciários federais receberam alerta por conta das proximidades do aniversário da facção. O primeiro atentado do PCC no ano passado foi realizado em 2 de setembro, dois dias depois de 31 de agosto. Na cidade de Cascavel, o agente Alex Belarmino Almeida Silva foi atingido por 24 tiros, a maioria pelas costas, quando dirigia seu carro para o trabalho, na unidade de Catanduvas.

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Os funcionários receberam o seguinte alerta nesta semana:

“Caros e Caras colegas! O dia 31 próximo será aniversário do PCC. Solicitamos que redobrem os cuidados e cautelas de segurança. No e-mail funcional será enviado novamente orientações de segurança pessoal. Ademais, a Área de Inteligência e Direção estão à disposição para qualquer auxílio necessário”.

Fontes ouvidas pelo UOL indicam que o clima entre os agentes penitenciários federais lotados em Porto Velho é de apreensão. Desde o início das mortes de agentes, em 2016, a maior parte deles já havia redobrado as medidas de precaução para evitar se transformarem em alvos do PCC.

PCC quer intimidar e desestabilizar

O UOL revelou no último dia 29 de junho que o PCC cometeu os homicídios, de acordo com parecer do MPF (Ministério Público Federal), com o objetivo de “intimidar e desestabilizar” os servidores que trabalham nas quatro unidades federais do país: Catanduvas (PR), Campo Grande (MS), Mossoró (RN) e Porto Velho.

PCC matou agentes penitenciários federais

A facção havia estabelecido uma meta de matar dois agentes para cada penitenciária federal. Como resposta aos assassinatos, o Ministério da Justiça determinou a suspensão das visitas íntimas e sociais nas unidades, já que as investigações sinalizam que os presos utilizam a ocasião de contato físico com parentes para repassar suas ordens.

No último dia 7, o Ministério da Justiça publicou uma portaria que mantém a proibição para as visitas íntimas, mas voltou a permitir as chamadas sociais.

A PF afirma ainda que a ordem dos assassinatos partiu, no dia 17 de junho de 2016, do detento do presídio de Catanduvas Roberto Soriano. Conhecido como “Tiriça”, ele faz parte da “sintonia final”, a cúpula do PCC.

Após o assassinato de Belarmino, Tiriça foi transferido para o presídio de Porto Velho, justamente de onde partiram as últimas informações sobre novos atentados, que incluem agora como alvos membros da Justiça, do MPF e da PF.

Resposta do Depen/Ministério da Justiça

Em sua resposta, o Depen afirma que “vem, há muito, se preocupando com a integridade física dos agentes de execução penal e dos demais colaboradores que contribuem para que as pessoas privadas de liberdade, no sistema federal, cumpram suas penas, como determinado pela Justiça, mas com respeito à dignidade da pessoa humana”.

O órgão federal diz que “medidas são deflagradas costumeiramente, eis que a missão do Sistema Penitenciário Federal abarca a custódia de líderes de facções”. Ainda em sua nota, o Depen listou as ações que foram tomadas:

“Limitação de acesso às dependências da Penitenciária Federal; gestões de informações com órgãos de inteligência; aumento do aparato de fogo nas torres e pontos de apoio; inspeção compulsória de todos os veículos que ingressarem na unidade, a partir do portão de acesso primário, incluindo porta-malas e interior dos veículos; alerta aos servidores para que redobrem as cautelas de praxe em todos os deslocamentos; aumento do efetivos nos postos de controle; suspensão de entrada e saídas de veículos no período noturno, salvo em situações de emergência”.

Procurado pela reportagem, o TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), ao qual é subordinada a Seção Federal de Rondônia, afirmou que, “em resposta a sua consulta, informamos que não temos informações a esse respeito no TRF 1ª Região”.

Por sua vez, o MPF em Rondônia afirmou “que não iria se pronunciar sobre o assunto”.

O UOL entrou em contato com a Superintendência Regional da Polícia Federal em Rondônia, mas até o presente momento, esse órgão não se pronunciou a respeito do assunto.

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