O poema de Jack Kerouac para Charlie Parker

O poema de Jack Kerouac para Charlie Parker

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No Zona Curva, por Fernando Valle – Apaixonado pelo bebop, ritmo criado pelo revolucionário Charlie ‘Bird’ Parker e sua turma nos anos 40, o escritor Jack Kerouac homenageou seu ídolo com a gravação musicada do poema ‘Charlie Parker’ em 1957. Na gravação, Kerouac declama o poema acompanhado no piano por Steve Allen. Em 1959, o escritor reuniu esse poema a outros no disco Poetry for the Beat Generation.

A galera apelidada de geração beat pirava e dançava ao som do bebop em bares frequentados predominantemente por negros em uma vibe que prenunciava a libertação pelo rock nos anos 60. Para inventar o bebop, Parker levou além standards conhecidos da música norte-americana com muita improvisação, virtuosismo em um ritmo frenético. O trompetista Louis Armstrong odiava o ritmo.

Considerado um dos principais músicos do século XX, o norte-americano Charlie Parker morreu com apenas 34 anos em Nova Iorque depois de muito abuso de heroína e álcool. O culto ao músico se viu logo após sua morte estampado nas paredes do bairro negro do Harlem: “Bird Lives”.

Antes de sua morte, Parker contabilizou duas tentativas de suicídio e uma longa internação em um sanatório. Destruído pela dependência química, o legista que examinou seu corpo atribuiu ao músico a idade de 65 anos.

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Lester Young foi um ídolos de Bird. Saiba mais sobre ele.

O filme recentemente lançado Whiplash, que conta as agruras de um jovem músico nas mãos de seu professor autoritário, ressuscita a história que marcou o início da carreira de Charlie Parker.

Em 1937, o ainda adolescente Bird participou de uma jam com a orquestra do pianista Count Basie, uma das mais conhecidas na época, na cidade natal de Bird, Kansas. Audacioso, Bird improvisou durante a execução da música I Got Rhythm em cima de acordes raramente usados no jazz.

Revoltado com a audácia do jovem músico, o baterista Jo Jones desparafusou tranquilamente o prato da bateria e o arremessou em direção a Parker. O público vaiou Parker e caiu na gargalhada, que retirou-se humilhado do palco. No filme Whiplash, o professor sempre lembra ao aluno que se o baterista não tivesse atirado o prato de bateria, Bird não teria se dedicado para superar essa frustração e nunca teria sido Bird.

“Koko”, Charlie Parker e Dizzy Gillespie

O POEMA

Charlie Parker parecia-se com Buda
Charlie Parker que morreu recentemente
rindo de um prestidigitador na TV
depois de semanas de tensão e enjoo,
era chamado o Músico Perfeito.
E a sua expressão na sua cara
Era tão calma, bonita e profunda
Como a imagem de Buda
Representada no Oriente, os olhos palpebrados
A expressão que diz “Está Tudo Bem”
– Isto era o que Charlie Parker
Dizia quando tocava. Está tudo bem.
Tinha-se a sensação de manhãzinha-cedo
Como a alegria de um eremita, ou como
o choro perfeito
De algum grupo impetuoso numa jam session
“Ai, Ai” – Charlie estourava
Os pulmões para alcançar a velocidade
Do que os amantes da velocidade queriam
E o que eles queriam
Era o seu Eterno Abrandamento
Um grande músico e um grande
Criador de formas
Que no fundo encontrou expressão
no mais e no que tendes.

Jack kerouac, 239th Chorus, “Mexico City Blues”.
(Tradução de Miguel Martins, in “Jazz e Literatura”, Ed. Campo das Letras)

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