Seguem os jogos nas Olimpíadas da Censura em Ariquemes

Seguem os jogos nas Olimpíadas da Censura em Ariquemes

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Rondônia Dinâmica, por Vinícius Canova – Prefeito de Ariquemes Thiago Flores longe de se livrar do transtorno que ajudou a criar

Porto Velho, RO — Quero pedir autorização àqueles que monopolizaram o termo “eles não aceitam os que pensam diferente”, para, ironicamente, apresentar uma visão divergente acerca do caso da censura imposta aos livros didáticos da rede municipal de ensino em Ariquemes.

Não credencio ao pivô do imbróglio Thiago Flores (PMDB), prefeito da cidade, total responsabilidade pelo prolongamento da questão que, a meu ver, não representa mais que qualquer outra bobagem propalada com intenções genuinamente politiqueiras.

Também não o isento como partícipe, claro, afinal decidiu “guerrear” com os fiscais da lei ao afrontar, educadamente, é claro, as recomendações apresentadas pelos Ministérios Públicos Estadual (MP/RO) e Federal (MPF/RO).

Porém, antes de falar do peemedebista e vereadores, algumas considerações a respeito da raiz do problema.

Vamos lá.

Com o Brasil em frangalhos políticos, sociais e econômicos, e isso não é de hoje, claro, ganhou força o lobby da ala autoproclamada conservadora, geralmente ligada a dogmas distorcidos praticados por aberrantes deturpadores do Evangelho.

Esse segmento nefasto, que julga e condena tudo aquilo que se enquadrar no perímetro a partir de seus umbigos, ou seja, nunca incluindo a si e aos seus, quero dizer, tem angariado força e atraído simpatizantes, desde que o ódio os una por definição.

As ovelhas, às vezes desgarradas e dispostas a seguir qualquer um que portar o cajado, rumam às lideranças perigosas que adenssam romarias a atentar contra a Humanidade, promovendo retrocessos irremediáveis em pleno século XXI enquanto países desenvolvidos e progressivos avançam — e só!

Jesus Cristo, assim como fez ao expulsar os vendilhões do Templo de Jerusalém, daria um voleio na “rabeta” desses falsos líderes movidos a níquel; perdoaria, no entanto, seguidores ignorantes, gesto de indulgência singular que, honestamente, torço para que a História não repita.

Se leu até aqui e entendeu “Esse cara odeia religiosos, não fale de Jesus em vão, chega de blasfêmia!”, este texto não é pra você. Aliás, nem a discussão quanto a censura: reinicie imediatamente o Fundamental, pois, mesmo funcional, analfabetismo é analfabetismo e isso sim é preocupante, digno de entrar nas pautas do MEC e das secretarias de Educação!

Os chamados “estelionatários da fé” — entre aspas porque legalmente a figura não existe — continuam a praticar arroubos extorsivos deflagrados especialmente contra vítimas, aí sim, de uma Constituição permissiva que proporciona aos menos instruídos a oportunidade de figurar eternamente na lista de achacados por perpétuos pecadores morais.

Os caracterizo assim, é claro, porque a legislação não os enxerga como criminosos, obviamente. E já que é impossível repreender juridicamente homens a pedir dinheiro diuturnamente nos canais de televisões — com espaços comprados a preço de ouro —, cultos, missas e/ou em quaisquer oportunidades que têm para arrancar vintém de cidadãos debilitados por vidas muitas vezes miseráveis nos mais variados campos, resta questionarmos as condutas vis colocando-as à apreciação popular, fomentando, quem sabe, possíveis mudanças num ordenamento que, nesta seara, é falido e ridículo.

“Mas eles não colocam armas na cabeça de ninguém. Desembolsa a grana quem quer!”.

Ah, é, cara-pálida? Um revólver pode ser metafísico, amigo. Se os seus demônios, no sentido figurado, óbvio, o rodeiam por questões estritamente religiosas, como deveríamos batizar ameaças reiteradas de arder no fogo do eterno suplício ao desvirtuar-se dos denominados caminhos de Deus?

Muitos discursos apresentados por essas lideranças levam a crer, embora apresentados em falas fora do contexto exato da exigência monetária — porque é preciso disfarçar um pouco pelo menos — compelem criaturas fragilizadas emocionalmente a entregar tudo o que têm de bom grado, esperando dias melhores à mercê da própria sorte. Quando a “profecia” se concretiza, foi obra do Divino; quando não, é porque a hora de prosperar ainda não chegou: tenha paciência, irmão! Assim é cada vez mais fácil encorpar o rebanho e engordar o guia do pastoreio.

Toda essa proteção corroborada pela lei, políticos e até mesmo a sociedade civil organizada, deu passe livre aos figurões para manter os negócios expandindo as áreas de atuação: eis o surgimento dos lobistas da crença a perpetrar danosa interferência política e, finalmente, revelando o porquê de estarmos discutindo banalidades em vez de temas primordiais voltados às crianças.

A história do material didático ariquemense é mesquinharia, assunto para render dividendos eleitoreiros. Thiago Flores entrou de gaiato no navio, talvez sem qualquer intenção do tipo, inicialmente para agradar a edilidade imaginando colher governabilidade. Adiante, ao perceber o espectro de sua popularidade crescer, ingressou de cabeça comprando a briga de vez e resistindo teimosamente porque de fato não há mais volta.

De repente, o país que parou para ignorar a maioria nas urnas passou a defender que, se mães e pais querem seus filhos educados assim e assado, norteados por diretrizes pinçadas de doutrinas cristãs e disciplinas militares, que se danem os professores, mais uma vez colocados debaixo do monossílabo tônico do cachorro em detrimento a ladainhas rudimentares. Coitados dos docentes, que apanham literalmente nas salas de aula, são desrespeitados pelo Estado ganhando salários pífios, molestados por idiotizados binários e, mesmo assim, perseveram.

Muitos desses familiares que enxergam nas escolas uma espécie de creche formadora de caráter e personalidade esquecem seu papel na hora de edificar essas características em seus próprios filhos. São, na realidade, muito mais responsáveis pelas violações morais quando vivem e demonstram contrassenso encarnado. Apontam o dedo indicador em riste sentenciando condutas consideradas depreciativas e anticristãs, mas paralelamente inúmeros enchem o rabo de cachaça; batem na esposa — e no marido; traem desvairadamente; mentem por qualquer motivo e o placar dos jogos nas Olímpiadas da Censura segue a nos mostrar somente perdedores. Descomposturas parentais irrompidas sem qualquer receio, muito mais prejudiciais à molecada que qualquer debate sobre diversidade familiar.

Uma ínfima fagulha de esperança é percebida nas atuações do MP/RO, MPF/RO e no modo como a Justiça Federal apreciou a matéria, concedendo liminar para que os livros sejam distribuídos sem censura. De vez em quando o ser humano precisa ser salvo de si e é aí que entram as instituições comprometidas com o coletivo, e isso inclui os excluídos – lamentavelmente para os retrógrados. Uma centelha longe do resplendor necessário, mas que alivia.

O entrave ainda vai longe…

Um livro mostrar que existem famílias com composições diferentes, demonstrando a realidade como é, reforçando a necessidade de respeito e consideração pela pluralidade, é escancarar verdade irrefreável. Tão natural quanto dizer que o abacateiro dá abacate; que no açougue vende carne ou que a Capital do Rio Grande do Sul é Porto Alegre.

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